O Estrangeiro
(Albert Camus)
O Estrangeiro é um romance escrito de maneira clara, de uma escrita que foi chamada por Barthes de escritura branca. A clareza do estilo não impede, no entanto, que o texto tenha grande densidade. A história de Mersault, argelino de origem européia, é a história de um alguém marginalizado, calado, vivendo alheio aos acontecimentos, sem saber nem querer saber seu sentido e significado. Mersault os observa sem se envolver com eles, até que tornou-se protagonista de um crime ao matar um árabe, não por acaso o irmão da mulher com que ele estava se relacionando. O conflito entre franceses cristãos, os muçulmanos e as outras etnias na Argélia, pode-se dizer, subjaz a essa narrativa, mas ela volta-se para a própria natureza humana para enfocá-la e questioná-la, abstraindo que há de mais exposto e doloroso no ser humano, ou seja, seu envolvimento emocional com o outro e seus sentimentos, Camus criou uma narrativa como que olhada por um olhar de vidro. As pessoas se tornam algo distante e esse narrador, presente no mundo e de certa forma ausente, com algo de fantasmagórico. Esse tom sinistro e sóbrio é acentuado pelo final do livro, onde ele se revela o relato de alguém já condenado à morte, e que a espera sem medo e sem assombro. O olhar petrificante é dirigido ao leitor de O Estrangeiro, que é brindado com as evidências da culpa de Mersault, mas ao mesmo tempo com a explosão de irracionalidade de dentro da pessoa mais pacata e aparentemente controlada: é a voz sóbria do humilde funcionário que deixa de argumentar que matou em legítima defesa para levantar o bizarro argumento de que matou devido ao brilho excessivo do sol, ou seja, das forças instintivas e naturais é que veio esse impulso irresistível.
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