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O significado de Canudos
(Cunha; Euclides)

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Resumo do texto: O significado de Canudos Marcos A Villa, em seu livro “Canudos o povo da Terra” afirma que o grande apoio popular dos sertanejos, a guerra, a resistência, a organização social e a fé do povo nordestino que seguia Antonio Conselheiro acabaram por despertar a atenção de muitos políticos, escritores, curiosos e imprensa para o arraial de Canudos, também chamado de Belo Monte. Segundo Villa, a incompreensão do mundo sertanejo foi substituída pelo fantástico, criando um grande sensacionalismo em torno de Canudos. Esta comunidade tornou-se alvo de várias interpretações, sendo que entre elas destaca-se a idéia do suposto sebastianismo de Conselheiro. A crença “sebastianista” surgiu em Portugal após a morte de D. Sebastião, em 1578 no Norte da África, e representava o grande desejo de retorno aos tempos de expansão marítima. Já no Brasil, esse termo foi ligado a alguns movimentos messiânicos que tinham a esperança do retorno da monarquia e com ela o restabelecimento da justiça e o fim da opressão do povo. Euclides da Cunha, autor do livro “Os Sertões” foi o único escritor participante da campanha que apontou uma influência sebastianista em Canudos. Para isso, ele utilizou-se de uma suposta profecia feita por Antonio Conselheiro. No entanto, os documentos citados pelo escritor não resistem a uma análise mais apurada. Os outros autores que falaram da influência sebastianista nada mais fizeram que repetir a idéia de Euclides, analisando superficialmente o período. Outra interpretação sobre Canudos foi feita por Edmundo Moniz. Este autor baseava-se no marxismo ortodoxo para compreender a organização do arraial, afirmando que “embora Antonio Conselheiro estivesse politicamente atrasado em relação à República, não compreendendo o significado histórico da revolução burguesa como um avanço, no plano social estava além da República como da monarquia. Ao Estado burguês apoiado pelos latifundiários, Antonio Conselheiro opunha a comunidade socialista”. (MONIZ, 1978.p. 30,31 e 68) Esta interpretação torna-se completamente equivocada pelo fato de que o livro a Utopia, de Thomas Morus (a qual teria servido de inspiração a Conselheiro) não poderia ter circulado no sertão brasileiro na época em questão. Outro ponto que merece destaque nessa interpretação é a visão preconceituosa que Moniz tem sobre o povo sertanejo, buscando uma explicação para as ricas formas de organização coletiva do arraial como sendo criadas a partir de uma inspiração européia e não fruto da tradição daquele povo. Moniz desconsidera a influência religiosa na formação de Canudos, afirmando que era apenas uma “fachada” para encobrir as razões de ordem material. Afirmar que Canudos era uma comunidade socialista é um erro, pois havia a presença de propriedade privada e até mesmo desigualdade social. “A razão do surgimento, da existência e da resistência de Canudos deve ser encontrada no mundo sertanejo, nas relações sociais, na vivência religiosa e na luta cotidiana pela sobrevivência. Não cabe incluir Canudos na linha evolutiva seqüencial das revoluções ocidentais” (VILLA,1999. p. 238) Décio Saes, por sua vez, afirmou que o movimento de Canudos liderado por Antonio Conselheiro distanciou-se das comunidades vizinhas e que poderiam ser considerados adversários da escravidão. Mas, entretanto, é sabido que o arraial sempre manteve relações com as cidades das redondezas, e também que a criação de Canudos aconteceu cinco anos após a abolição da escravatura, caindo por terra a hipótese de Saes. Para os historiadores e sociólogos de filiação marxista, a religião era considerada apenas um “pretexto” para encobrir ordens de razão material. A luta de milhares de sertanejos foi desqualificada, pois não condizia com o modelo revolucionário ocidental. “O entendimento de Canudos por aquilo que realmente foi era tão complexo e exigia tamanha inversão analítica que optaram por ignorar estas especificidades, preferindo repetir a cantilena de que a religião não passava de uma ideologiatípica de movimentos pré-políticos”. (VILLA, 1999. p.239) Houve também interpretações que afirmavam existir um milenarismo em Canudos. No entanto, os conselheiristas não se consideravam um povo eleito à espera da salvação. Logo que se instalaram no local onde se formou o arraial de Canudos foram sendo criadas as primeiras raízes organizativas da comunidade. Era preciso buscar a os recursos necessários para a manutenção de milhares de pessoas. Havia comércio local e também uma feira semanal que servia para o intercâmbio de alguns produtos. Nos relatos deixados por sertanejos que viveram em Canudos não consta indícios de exaltação coletiva milenarista, realização de milagres por parte de Conselheiro ou mesmo de profecias que ele fazia. No livro “Os Sertões” fica clara a idéia de choque entre dois mundos, o litoral e o sertão, a civilização e a barbárie. Euclides não acreditava ser Canudos um centro de oposição à República, devido ao estágio cultural dos seguidores de Conselheiro ser tão rudimentar que ele não acreditava que eles poderiam escolher entre monarquia e República. Na tentativa de negar a identidade da comunidade, sua organização social e sua importância foram construídas interpretações do arraial e do seu significado que nada tinham de condizentes com a realidade vivenciada por aqueles sertanejos. Para eles, o arraial representava a esperança de um mundo onde reinaria a justiça, foi uma forma encontrada de construir uma nova ordem social e lutar contra as injustiças do sertão.



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