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O Celibato de Cristo no Discurso Religioso e o Relacionamento com Maria de Magdala (1ª parte)
(Artigo de Márcia Elizabeti Machado de Lima)

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Em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, no primeiro capítulo, no andamento da descrição da gravura de Durer, após algumas intervenções irônicas, que dialogam com o imaginário construído sobre as características dadas, pela tradição, à Maria Madalena, ou de Magdala, como preferirmos, o narrador diz: “(...) comenta-se que só uma pessoa como ela, de dissoluto passado, teria ousado apresentar-se, na hora trágica, com um decote tão aberto (...)” (p. 14) . Dá-se, aí, o tom da valoração que vai ser atribuída à personagem nesse Evangelho. Como a desautorizar pela força da ironia, a voz da tradição, Maria Madalena é descrita com enorme força poética, conforme afirma BRIDI (p.124), “(...) identificada por sua condição de mulher inteira e humanamente envolvida pelo amor por um homem (...)”.
No Evangelho de João, Madalena é a primeira pessoa que vê Cristo ressuscitado. Sobre isso Saramago dá seu parecer – “era preciso que Jesus tivesse tido com ela, em vida, uma relação muito particular.” Baseado nesse pensamento, é que o construtor desse Evangelho de ficção, oportuniza a Jesus conhecer o amor materializado em Maria de Magdala. Levando a cabo o princípio da desmistificação, dando cor e movimento às suas personagens, apresenta Jesus como um ser humano pleno, dotado, portanto, entre outros atributos, de sexualidade.
Constrói, então, uma perfeita e sensual cena de amor entre os dois, conta que a iniciação sexual de Jesus se deu com essa mulher que bondosamente havia lhe curado as feridas. Como Reich em O Assassinato de Cristo, o narrador enfatiza a vitalidade e a plenitude de vida contida no orgasmo, ao narrar as falas de suas personagens – atingindo, assim, segundo BRIDI (p.123), “tonalidade irônica de primeiro grau por tocar em dogmas arraigados”.
A sensualidade da cena em que se dá o encontro sexual entre as personagens, com alto grau de poeticidade chega a encantar, mesmo a quem seria de esperar que se escandalizassem, os católicos praticantes que sabem apreciar a boa criação artística. “Maria de Magdala, com os seios escorrendo suor, os cabelos soltos que parecem deitar fumo, a boca tímida, olhos como de água negra: não te prenderás a mim pelo que te ensinei, mas fica comigo esta noite. E Jesus sobre ela, respondeu, o que me ensinas, não é prisão, é liberdade”. (p. 284, grifos nossos).
. Jesus, que aguarda, na cama, a amada de olhos fechados, ao abri-los e deslumbrar-se com a sua nudez, evoca a passagem bíblica, dizendo só agora compreender as palavras de Salomão, as quais traz para o presente como ilustração solene de realização humana. “As curvas dos teus quadris são como jóias, o teu umbigo é uma taça arredondada, cheia de vinho perfumado, o teu ventre é um monte de trigo cercado de lírios, os teus dois seios são como dois filhinhos gémeos de uma gazela, (...).” (p. 282)
Wilhelm Reich (1991), afirma que toda a essência da vida está contida no “abraço genital” feito com amor, completo, desprovido de interesses materiais, sem o aspecto de mera transa. A sexualidade para ele “não é uma simples cópula em busca de um prazer efêmero, mas uma experiência básica da Vida (vital) que recoloca os organismos vivos novamente em contato com a natureza cósmica e com Deus”. É no orgasmo que se revela toda a força vital e essa vitalidade é o próprio Deus que, portanto, não poderia ter condenado o ato sexual, como a Bíblia insinua através da linguagem figurada: “E ordenou o Senhor Deus ao homem dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente. Mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.(Gên. 2:16-17)
Esse trecho bíblico é contraditório, pois se Deus quer que seus filhos sejam bons, como poderia desejar impedi-los de distinguir o bem do mal? Conhecendo isso, o homem se assemelharia a Deus, e então isso é proibido? Sobre isso, Reich (1991:15), faz a seguinte reflexão: “O homem, através dos séculos, nunca deixou de ser atormentado pelo desejo de conhecer Deus, de trilhar os caminhos de Deus, de viver o amor e a vida de Deus: e quando ele começa a fazer isso seriamente, comendo do fruto da árvore do conhecimento, é punido, expulso do paraíso e condenado ao sofrimento eterno”.
Reich, assim como a maior parte da humanidade, traduz esse “fruto” como o conhecimento do corpo de Eva por Adão, ao “abraçá-la genitalmente”. Segundo ele, a Bíblia, em parte alguma, nos leva a crer que Cristo tenha proclamado a abstenção do abraço genital para ele ou para seus discípulos. Como um jovem saudável, atraente, freqüentador de todos os ambientes e sempre rodeado de mulheres jovens e sadias, a continência não combinava com as suas características. O apóstolo Paulo condena, mais tarde, a sexualidade obscena e não a sexualidade natural. Ao que Reich (p.108) questiona: “Por que, então, a condenação do desejo sexual como núcleo dinâmico do mundo católico atual, com tal severidade?”.
Enfatizando a afinidade existente entre Jesus e as mulheres, na sua trajetória pública, temos segundo os Evangelhos Apócrifos, várias demonstrações de ciúme manifestadas por parte dos discípulos de Cristo, em relação às mulheres, e especialmente a Maria Madalena. Piñero (2002:112) nos informa que “das quarenta e seis questões que os discípulos colocam a Jesus depois da ressurreição, trinta e nove são formuladas por Madalena.” Ele ainda fala das três Marias que segundo os documentos, estavam sempre com Cristo, deixando os discípulos enciumados.



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