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O Celibato de Cristo no Discurso Religioso e o Relacionamento com Maria de Magdala (3ª parte)
(Artigo de Márcia Elizabeti Machado de Lima)

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Em continuidade da narrativa do encontro entre as personagens Jesus e Maria de Magdala, em Saramago, depois de se amarem uma semana – “tempo necessário para que debaixo da crosta da ferida se formasse a nova pele.”(p.285), o que Bastazin (In Berrini, 1999:53) chama de “metáfora de um perfil que acaba por construir-se, mantendo a essência do ser, porém, agora, coberto pela maturidade das experiências vividas.” Jesus está pronto para retomar o seu caminho, que vai lhe abrir novas feridas.
Assim, Jesus e Maria não só se abraçaram genitalmente, mas viveram juntos um amor intenso. É ao lado dela que ele passou a operar milagres, será também por intermédio dela que deixará de operar, como no caso da morte de Lázaro. Na História bíblica que conhecemos, no Evangelho de João, Jesus ressuscita Lázaro para mostrar a glória do Pai. Aqui, Jesus sente-se bastante sensibilizado com a dor das irmãs do morto e o narrador tece a sua narrativa de forma a nos mostrar que ele sente-se tentado a realizar o milagre, narrando-nos as suas reflexões, todas elas remetendo-nos ao texto bíblico. Mas, ao final, desiste da realização diante do argumento genial de Maria de Magdala: “Ninguém na vida teve tantos pecados que merece morrer duas vezes...” (p.428).
Também é com Maria de Magdala que Jesus está na festa de casamento, onde realiza o famoso milagre da transformação de água em vinho. Dessa vez o que ocorre de diferente é que a Maria mãe, que chegara com os irmãos e revira a Jesus, depois de muito tempo, exige do filho o milagre, como forma de comprovação de que ele seria o Filho de Deus, conforme a revelação que ela recebera do “anjo”. Vai-se embora com Maria de Magdala, sem falar com a mãe e os irmãos, contrariando o texto bíblico que narra: “Depois disto desceu a Capernaum, ele e sua mãe e seus irmãos, e seus discípulos (...)”.(João, 2:12).
De fina ironia, reveste-se o “mosaico intertextual”, quando o narrador retoma o conhecido episódio bíblico da mulher adúltera, em que os escribas e fariseus queriam aplicar a lei do apedrejamento pelo pecado de adultério e Jesus, com grande justiça, diz-lhes: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”.(João, 8:7). Em Saramago., conforme já tivemos inúmeras mostras da exibição de sua “prodigiosa habilidade de contar o já conhecido de modo novo, surpreendente cheio de vida” ( Perrone Moisés in Berrini, p.255). O narrador comenta o caso da tentativa de apedrejamento da mulher adúltera, justificando a atitude de Jesus de desafiar a lei escrita e observada, pelo motivo de ele estar vivendo com Maria de Magdala sem estar casado e ela ter sido prostituta. Por fim, o narrador arremata todas as ironias ao dizer, em outras palavras, que Jesus não tinha certeza de ter agido certo: “Jesus disse à adúltera, Vai e doravante não tornes a pecar, mas no íntimo ia cheio de dúvidas.” (p.352, grifos nossos).Fica, assim, ressaltada a condição humana de Jesus, com direito de ter dúvidas a respeito de seus próprios feitos, os quais, de acordo com a Bíblia, seriam simplesmente cumprimento da vontade do Pai.
Nenhuma época foi tão propícia como a nossa, para se avaliar as conseqüências do celibato imposto aos padres da Igreja Católica, quando constantemente pululam denúncias de abusos sexuais: “Há tal quantidade de casos similares surgindo em toda parte do mundo que a pedofilia de batina se tornou o epicentro de uma das maiores crises da Igreja nos tempos modernos” ( Klintowitz, 2002:83). Ainda que não haja relação direta entre pedofilia e celibato obrigatório para o clero – o que de acordo com Klintowitz não é “um dogma teológico, mas sim uma regra interna do catolicismo que só começou a ser aplicada rigorosamente há cinco séculos nos 2002 anos de história da Igreja” (p.87). A sucessão de denúncias escandalosas, envolvendo, inclusive, vítimas que hoje são adultos problemáticos, devido aos abusos sofridos na infância, traz à tona a discussão sobre “a solteirice” dos padres. Quanto a Cristo ser celibatário, o papa João Paulo II, questionado pela mídia, respondeu prontamente que sim, mesmo não havendo nenhuma comprovação bíblica. A propósito desta questão, é pertinente retomar as palavras de exortação de Nietzsche (S/D:134), no seu Artigo Quarto da Lei Contra o Cristianismo: “A pregação da castidade é uma pública excitação para o anti-natural. Desprezar a vida sexual, enxovalhá-la com a noção de impuro, eis o verdadeiro pecado contra o espírito santo da vida.”
Relevante, também, é o ponto de vista de Nascimento Pitta (In Klintowitz, 2002: 88), que o celibato possa ser uma forma de camuflar supostos problemas de ordem sexual. Não há nenhuma evidência de que a abstinência leve à perversão, mas “o que se pode imaginar é que alguém com conflitos de sexualidade seja atraído pelo celibato, pois dessa maneira a sociedade não exige dele uma vida sexual normal”, como se o sacerdócio fosse capaz de domar os impulsos naturais, nas suas mais diferentes formas de manifestação. Ou seriam os padres seres diferentes dos demais, “dotados de autodisciplina e de espírito de sacrifício fora do comum das pessoas (...) já que renunciaram a esse mais ardente dos ímpetos no reino animal que é o sexo (...).” (Toledo, 2002:134). Exercitariam, assim, a “excitação para o anti-natural”, de que fala Nietzche, como se pudessem viver determinadas formas do amor e rejeitar outras, ou entendessem a relação sexual apenas como o pecado da carne.



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