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A subversão pelo riso. Estudos sobre o carnaval carioca da Belle Epoque ao tempo de Vargas.
(Rachel Soihet)

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Soihet discute as manifestações culturais da população pobre no Rio de Janeiro (1890-1930) como forma de resistência à discriminação e a opressão sofridas no cotidiano, através de músicas jocosas e a desobediência às leis. Soihet exemplifica com o bloco de sujos Macaco é o Outro — no qual os integrantes se fantasiavam de macacos e bradavam “Nós somos gente!” E, completavam, mais baixo: “Macaco é o outro...” —, uma demonstração de resistência e contestação à discriminação racial sofrida por negros pobres. O livro inicia com uma abordagem dos significados de uma das festas mais populares do Rio de Janeiro, a Festa da Penha. Atravé desse são analisadas as relações de tensão entre a população pobre e os segmentos dominantes. Para os primeiros, representava um espaço de sociabilidade e celebração de sua religiosidade. Para os segundos, o comportamento dessa população significava uma mancha no modelo de civilização e modernidade que pretendiam reproduzir no Rio de Janeiro. Na Festa da Penha também emergiam os conflitos internos pré-existentes, como entre negros e portugueses “rivais no mercado de trabalho, também se defrontando como patrões e empregados”(p. 25). A rejeição às práticas culturais populares era reprimida pelo Estado através da polícia, para manter a ordem excludente. A violência policial perseguia frequentemente a população negra: o samba, o batuque, a capoeira eram os alvos constantes. A associação do negro à marginalidade e à desordem estava resumida na expressão “pessoal duvidoso” usada pelo Jornal do Commercio, sobre os negros. A autora aponta as proibições à execução do samba ou aos seus instrumentos ocorridas entre os anos de 1907 e 1918, ao que os sambistas reagiam batendo o ritmo com as palmas das mãos, em garrafas, ou simplesmente desobedecendo às escondidas.
Na transição do século XIX para o XX, a cultura popular de origem negra predominou sobre a portuguesa e definiu os contornos da Festa da Penha. Esta também se tornou uma referência para a difusão do samba na cultura carioca, ainda que sob o contexto autoritário da Belle Epoque que desqualificava a cultura popular. Nela foram lançadas músicas e grandes nomes do samba como Sinhô, Pixinguinha, Donga, e outros. Durante os dias de folia era possível perceber a diferenciação entre duas visões de mundo: uma construída a partir da reforma Pereira Passos, cuja principal expressão era a Avenida Central por onde transitava a alta sociedade com seu desfile de carros com flores. A outra, a Praça Onze, “ponto de concentração de sambistas e malandros, como o lugar da batucada e do samba duro” (p. 57). No entanto, a população pobre não se restringiria à Cidade Nova, e comparecia a Avenida Central com pandeiro, violão, cordões e sambas considerados impróprios à cidade branca que se pretendia reproduzir.
A autora discute as visões sobre o entrudo, o zé-pereira, os cordões e os ranchos. Ressalta que todos os segmentos sociais participavam do entrudo, mas cada indivíduo, frequentemente, brincava no seu próprio grupo, “raramente molestando qualquer pessoa que não de sua cor” (p. 66). A partir da década de 1850, aparecem dois tipos de desfiles: um para a participação da sociedade emergente e intelectuais, com a introdução de elementos considerados civilizados, e outro popular, como o zé-pereira, de origem portuguesa. Sobre os cordões e os ranchos, surgidos nas últimas décadas do XIX, a autora destaca sua origem nas manifestações religiosas e que, através deles, a influência africana se sobrepôs à portuguesa nas festividades populares. Os cordões se transformaram em grupos fantasiados, com músicas e estandartes próprios. Estes competiam entre si, ocorrendo conflitos nos quais a polícia intervinha, reforçando a imagem negativa dos cordões. Na concepção da sociedade aburguesada a participação dos segmentos pobres no carnaval era qualificada como “horrível, fétido, bárbaros (...) que dão ao nosso carnaval de hoje algo de boçal e selvagem” (p.80). A assimilação das manifestações populares aconteceu com os ranchos, na década de 1920. A resistência dos segmentos populares aliada a utilização de elementos de uma cultura erudita foram responsáveis pela sua aceitação.
A partir dos anos 1930, de música desqualificada, o samba se transforma em um dos símbolos nacionais, ao mesmo tempo em que as concessões entre as escolas de samba e a ideologia do Estado Varguista transformaram as primeiras em atração turística. Grupos pobres têm nas escolas de samba um espaço de reconhecimento e valorização de sua cultura. Essa nova condição foi possível pelo fortalecimento da resistência dos populares sob o contexto de intervenção autoritária do Estado Varguista nos elementos significativos à este segmentos, como as questões trabalhistas e as práticas culturais, ambos vistos como sinônimo de marginalidade até o Golpe de 1930.
Soihet também faz uma análise das visões sobre a mulher e sua participação no carnaval. Discute as idéias sobre o comportamento feminino obedecendo à moral da época. Em fins do século XIX e início do XX, o carnaval era tido como responsável por despertar a luxuria em “moças direitas”, e só mesmo as devassas se entregavam às folias. O carnaval era usado como argumento para justificar a violência masculina ou para definir o caráter feminino.A partir dos anos 1920 e 30 pôde ser observada uma atuação feminina mais explícita no carnaval. Contudo, o ideal da mulher passiva e que precisava ser protegida por pais e maridos era predominante. Para as mulheres dos segmentos médios, o carnaval representaria um espaço de transgressão que fugia aos únicos papéis que lhes era permitido na sociedade: mãe e esposa.



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