PLANETA VERDE
(CARLOS BRITO)
PLANETA VERDE, LIVRO DE VEZ
Carlos Brito é dos que acredita, como Mallarmé, que o mundo é feito para acabar em livro. Basta-lhe ter ajuntado um punhado de trabalhos (poemas e textos em prosa) para tratar de enfeixá-los em um volume. Pode-se até buscar uma unidade, uma fieira para os textos, mas o livro, enquanto conteúdo, é fragmentado, inconsútil. Embora a hipossufiência de escritor (re)force e a hipocaloria da coisa escrita contra-indique, o persistente professor da rede pública estadual se taca por aí, Imperatriz a dentro, a garimpar apoios entre amigos desinteressados e políticos interesseiros. Dessas andanças –– quase peregrinação ––, dessa canseira –– quase humilhação ––, sai à luz, a fórceps, mais um livro.
Planeta Verde é o quarto livro de Carlos Brito, e talvez só fosse sair em 2001. Isto porque o autor, ainda que desapercebidamente, estava publicando um livro a cada cinco anos: em 1986, Os Segredos da Poesia; em 1991, Devastação, e, no ano passado, Memórias e Sonhos.
Carlos Brito mudou o tempo de editar, mas não o jeito de cometer seus textos. É simples, diz logo o que pensa, sem preocupações estéticas ou rebuscamentos literários. Não tem um estilo; basta-lhe ser um homem, um ser humano que contempla, percebe, sente, sofre e sintetiza seu testemunho e sua vivência em prosa e verso. É como se raciocinasse que o que é bom e bonito na vida não precisa de coloridos metafóricos no texto; e o que é ruim, basta tê-lo sido na vida –– sendo igualmente desnecessário revivescê-lo na escrita.
São 39 trabalhos: 24 textos em prosa, 15 poemas. Pessoas, cidades, reminiscências, sentimentos, questões sociais e profissionais, preg/ações ecológicas, coisas dagora e de outrora, um pingo de romance e romantismo aqui, umas deambulações acolá e faz-se, politemático, multicolorido, o Planeta Verde.
Embora sejam gêneros diferentes, dá para dizer que a prosa de Carlos Brito ganha da poesia, não só na contabilidade, mas, também, na habilidade de contar. Como prosador, ele fica mais à vontade, ele sabe que o texto vai até aonde for seu repertório de dizer o que tem a dizer. No verso, não, seu sentir parece não corresponder ao seu escrever. Há uma, digamos, hipotrofia, uma deficiência de nutrição no caminho entre o que o cérebro elabora e o que a mão opera. Quem sabe não seja a contenção dos versos, o limite das linhas.
Mas, ainda bem!, o poeta não se dá por vencido e, de sua sadia teimosia, brota o canto. Ele sabe que todo verso vale a pena e que, pequeno, só mesmo se for o corpo do poema, porque a alma dele, poeta, é imensa.
Edmilson Sanches
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