RAIMUNDO MIRANDA, 80 ANOS
Se estivesse vivo, o escritor imperatrizense Raimundo da Silva Miranda teria completado 80 anos no dia 2 de janeiro. A data, como é naturalíssimo em uma cidade que despreza a própria memória, passou em branco -- excetuada a lembrança feita pelo colunista e registrada na edição deste jornal do dia 3.
Raimundo Miranda nasceu em Sítio Novo, e veio ainda criança para Imperatriz. Funcionário público, foi trabalhar na Previdência Social no Rio de Janeiro, de onde retornou para Imperatriz, para ficar junto à mãe, que estava adoentada. Residia na rua Simplício Moreira, já próximo à avenida Dorgival Pinheiro de Sousa. Aposentado do INSS, morreu em julho de 1990.
O único livro conhecido de Raimundo da Silva Miranda é “Emoções Sentidas”, contos, que chegou à 2ª edição. Foi publicado por Dior Editores, em 1986, no Rio de Janeiro. A obra tem 94 páginas, onde se distribuem 10 contos. O mais longo deles, “Dona Filomena” (18 páginas), “é verídico em todos os seus parágrafos”, como alerta o autor nas páginas iniciais do livro. Raimundo Nonato da Silva, professor da UnB (Universidade de Brasília), que escreve, nas “orelhas” do livro, o texto de apresentação não economizou em elogios: diz que a imaginação do autor “é fértil” e “reveste-se de inteligência, sensibilidade, sentimento, movimento, progressão, interesse, gosto, expressão, idealização, variedade e subtileza, ao lado de um vocabulário fluente, riquíssimo e de uma adjetivação precisa e saborosa”. O professor qualifica o estilo do contista imperatrizense de “claro, conciso, original e harmônico”, lembrando, “em todas as suas nuances, Afonso Arinos, Mário Palmério, Guimarães Rosa, Raquel de Queiroz, José Américo e tantos outros”. Para quem conhece estes autores, há de convir que o professor da UnB colocou o nosso Raimundo Miranda em boníssima companhia.
Entrei em contato com familiares do autor, para informar-me se haveria escritos esparsos, dispersos, inéditos. Quem sabe, no futuro, uma obra post-mortem poderia ser editada, com renda revertida em favor dos familiares. No futuro, quem sabe, Raimundo Miranda poderá ser o patrono de uma cadeira na Academia Imperatrizense de Letras, e, se os tais vereadores e o Poder Executivo dedicar-se a conhecer mais e melhor as coisas e loisas da cidade, Raimundo Miranda poderá ser nome de rua, designativo de prêmio, torneio ou troféu, placa de prédio, nome de escola, intitulativo de uma comenda e sabe-se lá mais o quê que pode ser inventado em honra e memória daqueles que preferem ter o poder da palavra a ser a palavra do Poder.
EDMILSON SANCHES -
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