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O compositor como intelectual: Inscrições ideológicas no Neoclassicismo francês entre-guerras (The C
(Jane F. Fulcher (Indiana University))

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Um concerto, com músicos e platéia em trajes do séc. XVIII; os instrumentistas tocando música francesa perante os netos de Madame de Montespan. As crianças estão ouvindo seleções de Lully e Charpentier, que ilustram o nascimento e crescimento da ópera na França. O episódio descrito se trata de uma cena da ópera Mademoiselle de Nantes, que estreou em 06/12/1915, em Paris, sob direção de Jacques Rouché e ilustra o papel que a música do passado clássico teve na França da 1° Guerra Mundial. Neste exemplo, o concerto encenado foi usado para instigar identidade cultural em uma audiência que testemunhava seu próprio passado ilustrado no palco. A Ópera, como outras instituições, deveria servir à criação de uma memória nacional, para instaurar uma identidade unificada em uma França politicamente fraturada. A Direita nacionalista levantava a questão dos "valores franceses essenciais" e ao triunfar, no período da guerra, deu credibilidade à "Ligue de l'Action Française", instituição monarquista que classificava a verdadeira cultura francesa como "clássica". Tal visão, criticada pela Esquerda, que questionava o que eles entendiam por "clássico", foi a que as instituições culturais passaram a ter que impor. No período da 1° Guerra o espírito nacionalista esteve fortemente presente na política francesa. O "francês" não era mais só uma língua, mas um modo de ser e pensar, um conjunto de valores comuns, um ethos. A literatura e as artes logo foram usadas para ajudar a criar essa identidade nacional. Para isso valeram-se de um mito histórico: a imagem do classicismo francês, convenientemente manipulada pelos nacionalistas. Seria um classicismo coletivo, puro, ordenado, equilibrado, obediente; na música usando formas bem definidas, tonalidade clara, moldando-se na música erudita francesa dos séc. XVII e XVIII. As sociedades de concerto francesas, como a Ópera, deveriam propagar o mito dominante de uma tradição pura, coletiva e unificada, que tinha sua base em um passado clássico, hierárquico e ordenado. Os programas exibiam óperas clássicas francesas, obras de compositores dos países aliados à França na guerra e de alguns compositores franceses, como Franck, Magnard e Saint-Säens. Inicialmente tentou-se evitar toda e qualquer música alemã, mas apesar da ideologia ortodoxa, o público a queria. Mesmo assim, o conceito de "musique défaitiste", que comprometia o patriotismo francês, permaneceu, fazendo censores verificarem se os programas não continham compositores "boche", alemães e modernistas, dentre eles Bach, Haendel, Schubert, Mendelssohn, Weber e Wagner. As ortodoxias se institucionalizaram. Os compositores, como todos os intelectuais e artistas, enfrentavam interdições nas representações da cultura nacional, pois o conservadorismo se tornara autoritário, em nome do "génie nationale". Mas os músicos não precisavam se conformar totalmente, pois através do "estilo", podiam equivocar mais sutilmente. Ou não tanto, como fez Eric Satie (1886-1925). Sua abordagem desafiadora da música pode ser muito bem exemplificada em uma de suas principais obras, o balé Parade. Com cenário e trajes elaborados por Picasso e estória de Cocteau, Parade tem um sabor de entretenimento popular. A ação se dá em uma rua de Paris, do lado de fora de uma tenda de circo, em uma tarde de domingo, no verão. São anunciados os talentos dos três atos: o mágico chinês, a garotinha americana e os acrobatas. Cada um mostra um pouco de suas habilidades para o público, mas não conseguem faze-los entrar para o show. No final, portanto, entram em desespero. A tonalidade é C maior, os movimentos são rigidamente simétricos, logo após o coral de abertura há uma fuga, se trata de uma forma do gosto francês, o ballet. Tudo de acordo com as "regras", mas implicitamente Satie ridicularizou o mito dominante acerca dos valores clássicos, distorcendo sua gramática: a peça apenas começa e termina, abruptamente, em C maior; a simetria é feita poum processo de "espelho": após uma seção, o material temático primário é apresentado de trás para frente; a fuga logo se dissipa em uma série de arpejos descendentes; não há um real "desenvolvimento" do material, Satie usa a técnica de "colagem" de elementos, que não derivam um do outro. Efeitos sonoros, como som de máquina de escrever, tiros de pistola, turbina de avião e sirenes são incorporados. Não são estilizações, mas os ruídos reais, do mundo moderno, que fixam a atmosfera dos personagens. O tumulto causado pelo balé Parade, atacado como "boche" – modernista, antipatriótico – revela as conseqüências de transgredir as convenções em um momento de insegurança, instabilidade e revoltas, como na primavera de 1917. Após a guerra, as tensões se afrouxaram e a contestação podia retornar abertamente. Problemas políticos e sociais provocaram descontentamento por parte dos trabalhadores e jovens. A Esquerda política respondeu ao crescente desejo desses grupos por mudança radical. Esse, além do mais, foi o momento do nascimento do Partido Comunista na França. Apesar do crescimento da coalição de Esquerda, a mentalidade oficial era conservadora e protecionista acerca das instituições de cultura. A Action Française, por exemplo, aumentou sua influência. Durante a hegemonia conservadora, oficiais procuraram combater todo intercâmbio cultural com a Alemanha, além de correntes "perigosas", que fossem contra os valores clássicos franceses. A ênfase do período de guerra em história da música francesa, através de concertos "educativos", se estendeu à era pós-guerra. A geração mais velha de compositores, dentre eles Debussy, se achava então em posição privilegiada, apresentada como a mais recente manifestação da música francesa tradicional. Por essa razão os compositores jovens enfrentaram crescente resistência da imprensa, sua música atacada como perigosamente "modernista", não-clássica e não-francesa. Mas, apesar da posição dominante ser ortodoxa, aliada à estética da Action Française, , agora havia outras possibilidades de conceber o clássico. Com o retorno da oposição política (apesar de ainda haver censura), o mundo musical logo se viu cheio de interpretações contestatórias. Exemplo disso foi o ressurgimento do jornal La Nouvelle Revue Française, fundado em 1909 e retomado em 1919, sob direção de Jacques Rivière. Esta publicação se propunha a acabar com as constrições que a guerra exercitara à inteligência. Se opondo aos ortodoxos, argumentava que o clássico se baseava em autonomia e críticas inteligentes. Rivière previa um "renascimento clássico", mas não literal, simplesmente imitando o passado. Seu "renascimento" era enraizado no autêntico "espírito clássico", com aspirações universais (não só nacionais), associado à Revolução de 1879. Não havia modelo, mas sim valores, entre eles o espírito crítico, autonomia artística, independência criativa e preocupação com qustões da humanidade. Defenderam a reaproximação cultural e política com a Alemanha, num momento em que a "germanofobia" ainda era dominante nos círculos intelectuais. Tal visão do classicismo era oposta à da Action Française, que também tinha seus jornais afiliados. Entre os que contestaram o modelo ortodoxo nos terrenos político e estético, Maurice Ravel foi um dos compositores mais visíveis. Sua postura intelectual foi de crítica, identificada com a Esquerda pós-guerra. Ao receber o manifesto e convite para se juntar à "Ligue Pour La Défense De La Musique Française" respondeu: "Seria perigoso para os compositores sistematicamente ignorar as produções de seus colegas estrangeiros para formar uma espécie de coterie nacional: nossa arte musical, tão rica na época presente, não demoraria a se fechar em seus próprios clichês. (...) Eu espero, contudo, agir como um homem francês e me contar entre aqueles que querem servir." Sua doutrina clássica aproximava-se da proposta na Nouvelle Revue Française. Abria-se às riquezas de outras culturas, inclusiv



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