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O sentimento da natureza em Kant, na Crítica da Faculdade de Julgar - III
(Kant)

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O belo e o sublime. “Mas a diferença mais importante e mais intrínseca entre o sublime e o belo é antes esta: se, como é justo, aqui consideramos antes de mais nada somente o sublime em objectos da natureza (pois o sublime da arte é sempre limitado às condições da concordância com a natureza), a beleza da natureza (auto-subsistente) inclui uma conformidade a fins na sua forma, pela qual o objecto, por assim dizer, parece predeterminado para a nossa faculdade de juízo, e assim constitui em si um objecto de comprazimento; pelo contrário aquilo que, sem raciocínio, produz em nós, e simplesmente na apreensão, o sentimento do sublime, na verdade pode quanto à forma aparecer contrário a fins para a nossa faculdade de juízo, inadequado à nossa faculdade de apresentação e por assim dizer violento para a faculdade da imaginação, mas apesar disso e só por isso é julgado ser tanto mais sublime.”
Há diversas semelhanças entre os juízos do belo e do sublime, nomeadamente quanto ao desinteresse, à validade universal, à conformidade a fins subjectiva e à necessidade. O que nos importa agora é compreender as diferenças.
Em relação ao juízo de gosto acerca da rosa: a rosa é bela; o nosso juízo procede como se a beleza fosse mais um predicado da rosa; daí a capacidade de universalização do estado de ânimo em relação àquela rosa. Mas no que concerne ao juízo estético sobre o sublime, por exemplo na contemplação de uma montanha enorme, a sublimidade não é colocada no objecto, mas no conflito que se exerce em nós, espectadores. Porque é que temos um sentimento do sublime ao vermos aquela montanha enorme? Porque não conseguimos formalizá-la de acordo com o nosso entendimento. Não lhe encontramos um limite, uma forma. A montanha é tão grande que não a conseguimos captar à nossa maneira, finitamente (o que acontecia naturalmente com a rosa). Temos então, não o sentimento de prazer ao constatar a beleza do objecto, mas o desconforto da sublimidade ao tentarmos compreender a imensidão (infinitude) daquela montanha.
O belo não é desmesurado, é belo; tem uma forma harmoniosa. Ao passo que o sublime é simplesmente informe. Mas, sendo informe, o sublime é todavia pensado pelo homem. Logo, “sublime é o que somente pelo facto de poder também pensá-lo prova uma faculdade do ânimo que ultrapassa todo o padrão de medida dos sentidos”. Então, se pelo belo ampliamos o nosso sentimento comunitário, pelo sublime elevamo-nos à compreensão do infinito, em nós: “ (…) assim, aquela grandeza de um objecto da natureza, na qual a faculdade da imaginação aplica infrutiferamente a sua inteira faculdade de compreensão, tem que conduzir o conceito da natureza a um substrato supra-sensível (o qual fica no fundamento dela e, ao mesmo tempo, da nossa faculdade de pensar), o qual é grande acima de todo o padrão de medida dos sentidos e por isso permite ajuizar como sublime, não tanto o objecto, mas muito mais a disposição do ânimo na avaliação do mesmo”.
A natureza é vista pelo sentimento do sublime também como um poder. Kant apelida-o de dinâmico-sublime da natureza. Este poder suscita medo, o que torna o objecto temível. Porém, assim como a inclinação dos sentidos não permite a fruição de um objecto pelo juízo do belo, também quem sente medo, não julga, mas foge, se puder. Portanto, o dinâmico-sublime sente-se perante algo que é temível, que nos leva a imaginar a tentativa de resistência: “Mas o seu espectáculo só se torna tanto mais atraente, quanto mais terrível ele é, contanto que, somente, nos encontremos em segurança”.
O poder que sentimos na natureza, sentimos também em nós, ao consideramo-nos sujeitos de um destino maior – maior que a rotina do dia-a-dia, cheia de pequeninas preocupações com saúde, alimentação, etc. “Portanto a sublimidade não está contida em nenhuma coisa da natureza, mas só no nosso ânimo, na medida em que podemos ser conscientes de ser superiores à natureza em nós e através disso também à natureza que nos é exterior (na medida em que influi sobre nós).”
O sentimento do sublime, tal como o sentimento do belo (embora de maneira diferente), faz-nos sentir a influência da natureza sobre nós, enquanto seres humanos, também naturais. Kant diz-nos que precisamos de cultura para pensarmos/sentirmos o sublime da natureza, mas diz-nos também que este sentimento não tem origem na cultura mas na natureza do homem. O sublime aparece-nos assim como um mistério, que os antigos traduziam em mitos, também para se superiorizarem à natureza (ou para se lhe igualarem no destino).
Cultivados pela ciência, somos agora levados pela natureza para outros voos, porque não há cultura que finitize o infinito. Assim, o sentimento do sublime está ligado mais ao campo da moralidade. Há, tal como com o sentimento moral, um conflito de faculdades no homem, “só que no juízo estético sobre o sublime esta violência é representada como exercida pela própria faculdade da imaginação, em vez de ser exercida por um instrumento da razão”.
No julgamento do belo há mais jogo, no julgamento do sublime há mais luta de vida e de morte – respeito (do homem para com a natureza, enquanto ser que procura a máxima elevação estética/moral, acima da mera animalidade, ainda que racional).



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