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O sentimento da natureza em Kant, na Crítica da Faculdade de Julgar - VII
(Kant)

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Para uma filosofia da relação estética com a Natureza. Pensar a natureza actualmente envolve problemas ambientais, que não se colocavam (ainda) a Kant. Por isso, a filosofia da estética kantiana não seria ingénua, mas livre da poluição excessiva do cultural sobre o natural. Não que não houvesse já então poluição. A filosofia de Kant sempre foi uma filosofia do homem, sobre o homem, para o homem. Isto é, Kant sempre teve a consciência de que devemos ser inteiramente responsáveis pelos nossos actos, simplesmente porque somos nós que julgamos e fazemos, de acordo com tais juízos. Se fazemos sem ajuizar, fazemos mal, pois temos, como seres racionais e sensíveis, todos os meios necessários para exercitar o pensamento, o gosto, a (boa) acção.
Assim, é a poluição do carácter a que mais preocupa o filósofo. E é de facto esta a poluição mais insidiosa e devastadora, que se propaga pelos meios de comunicação social e mina o são desenvolvimento dos sujeitos de uma vida. Ao ler a seguinte passagem do texto de Kant, ocorre imediatamente ao espírito este vírus, que hoje tem a televisão, a Internet, os jornais, as rádios, os telemóveis e outros (todos em locais públicos e privados), utilizados (na grande maioria dos casos) como meios de globalização da doença: “Romances, espectáculos chorosos, insípidos preceitos morais que brincam com as chamadas (embora falsamente) atitudes nobres, e que de facto tornam antes o coração seco e insensível à prescrição rigorosa do dever, incapaz de todo o respeito pela honra da humanidade em nossa pessoa e pelo direito dos homens (o qual é algo totalmente diverso da sua felicidade) e em geral de todos os princípios sólidos; (…) não se conciliam uma vez sequer com aquilo que pode ser contado como beleza, e muito menos ainda com o que pode ser contado como sublimidade do carácter”.
Deste modo se percebe a importância da experiência estética, sobretudo hoje, como impulsionadora de um novo método do filosofar. Numa altura em que cada vez há mais feio (é interessante verificar que Kant não excluía necessariamente o feio do estético: ele apenas excluía “a fealdade que desperta asco), feio que como em Kant, causa asco, em que os problemas ambientais se atropelam em ondas que põem cada vez mais em perigo a saúde e a própria existência da humanidade, fará sentido perguntar se precisamos do belo, se precisamos do sublime? E fazendo sentido, porque se pergunta, afinal (tal como muitas pessoas ainda perguntam se precisamos da poesia, da filosofia, do teatro?...), qual será a resposta?
Quando se pergunta se precisamos, a ideia é mesmo saber se se tratam de necessidades absolutas para a sobrevivência da humanidade. Kant, na crítica da faculdade do juízo descobriu uma passagem de esperança na evolução integral do ser humano: “nós, frequentemente, damos a objectos belos da natureza ou da arte nomes que parecem pôr no fundamento um julgamento moral. Chamamos, a edifícios ou a árvores, majestosos ou sumptuosos, ou a campos, risonhos e alegres, mesmo cores são chamadas inocentes, modestas, ternas, porque elas suscitam sensações que contêm algo analógico à consciência de um estado de ânimo produzido por juízos morais”.
Este pequeno trabalho tem procurado, através da leitura apoiada de Kant, um caminho que se crê imprescindível para um estudo no futuro mais aprofundado sobre a filosofia enquanto Estética da Natureza.
Um pensador contemporâneo, Martin Seel, defende que o juízo estético, enquanto desinteressado, contemplativo, não manipulador, não violento, pode e deve ser tomado como paradigma ético. Uma atitude estética para com a natureza denota um espírito são, bom (tal como em Kant), capaz de conduzir em liberdade a vida humana, valorizando a natureza, fundamento e instigador da razão estética.
Para Martin Seel, o conceito de natureza é frágil, muito mais frágil que no século XVIII de Kant. Assim, urge perguntar se o que antes considerávamos sem dúvida natural, hoje ainda se mantém como válido. A resposta é todavia também kantiana: o natural é o auto-produzido, sem a intervenção (manipulação, desconstrução) humana. Será então um rio poluído natural? Sim, responderá Seel, enquanto for rio e a sua água, embora debilitada pela poluição humana, continuar a correr pelas suas próprias forças para o mar. Um jardim trabalhado também é considerado por este pensador como natural, já que a produção das plantas continua a ser auto-produção da natureza. Já os produtos transgénicos não são naturais. E assim muitos produtos fabricados pelo engenho e arte (técnica) humanos.
De uma forma realista, admitindo que o homem é necessariamente homo faber , Seel procura conciliar esta necessidade instrumental com a necessidade igualmente absoluta de uma atitude estética. Deste modo, há que a todo o custo preservar a natureza, a autenticidade da natureza. Só assim, se poderá preservar o homem enquanto ser humano autêntico, e portanto, portador de sentido: “A aniquilação ou impedimento do belo natural é uma liquidação da relação não-instrumental com a natureza ambiente. É ao mesmo tempo uma destruição da contingência positiva, da diferença estética, da liberdade real e do tempo preenchido” (Martin Seel).
A finalizar, uma última citação, de Kant, ainda a propósito de uma resposta necessariamente positiva (exclamativa mesmo) às perguntas acima colocadas: “Ambos [o belo e o sublime], (…) são conformes a fins em referência ao sentimento moral. O belo prepara-nos para amar sem interesse algo, até mesmo a natureza; o sublime, para estimá-lo, mesmo contra o nosso interesse (sensível) ”.



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