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Isto pode ser correcto na teoria, mas nada vale na prática (em A Paz Perpétua...) - VI
(Kant)

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Da relação da teoria à prática no direito das gentes.
A esperança de melhores tempos. “Há na natureza humana disposições a partir das quais se pode inferir que a espécie progredirá sempre em direcção ao melhor, e que o mal dos tempos presentes e passados desaparecerá no bem das épocas futuras?”
A última parte deste opúsculo de Kant é dedicada a Moses Mendelssohn, um céptico em relação ao progresso (à moralização) da humanidade. Esta última parte é, não apenas uma exteriorização de esperança, mas uma declaração de princípio. Trata-se da unidade, o elo que une os homens uns aos outros, nesta tendência natural para a sociabilização (sociabilidade insociável, já nos disse Kant, mas ainda sim sociabilidade, necessária e intrínseca). Todos sabemos que não podemos ter a certeza absoluta de que o Sol amanhã renascerá (este tema foi desenvolvido nomeadamente por Bertrand Russell, na obra Os problemas da Filosofia, num capítulo dedicado à indução. Ele é crucial para Russell no que diz respeito à sua teoria do atomismo lógico e à existência necessária de proposições gerais. Por indução, não podemos afirmar, por exemplo, que todos os homens são mortais. No entanto, como é impossível uma tal abordagem pela ciência, a mente humana serve-se da crença como suporte de existência e manutenção de coerência da vida. A analogia com Kant faz-se precisamente da crença para a esperança. Não ser provável pela experiência que a Natureza tem um sentido teleológico, caminha para melhor, não significa que não se encontre tal sentido. O mesmo tipo de passagem faz-se do ser para o dever ser). Ainda assim não deixamos de ter esta crença (e outras), evidentemente. Qual é a razão que nos leva então a acreditar? Não pode ser a experiência, pois esta nada nos revela acerca do futuro. Sim, o Sol sempre tem nascido, então é natural que amanhã volte a comportar-se da mesma maneira. Mas o imprevisto acontece – pode dar-se alguma catástrofe (prevista pelas leis da Natureza, é certo, pois são leis que nos são estranhas, às quais temos acesso por verificação exaustiva, mas não por compreensão. Não encontramos, pela experiência, um sentido para a Natureza). Assim, acreditamos porque faz parte da nossa condição humana.
Somos seres de esperança: “Poderei, pois, admitir que, dado o constante progresso do género humano no tocante à cultura, enquanto seu fim natural, importa também concebê-lo em progresso para o melhor, no que respeita ao fim moral do seu ser, e que este progresso foi por vezes interrompido, mas jamais cessará. Não sou obrigado a provar este pressuposto; o adversário é que tem de o demonstrar.”
A experiência tem-nos mostrado que o homem não tem melhoras? Não é verdade, afirma Kant, já tem havido progresso. E mesmo que fosse… “pretender que o que ainda não se conseguiu até agora também jamais se levará a efeito não justifica sequer a renúncia a um propósito pragmático ou técnico (como por exemplo, a viagem aérea com balões aerostáticos), e menos ainda a um propósito moral no nosso tempo, em comparação com todas as épocas anteriores.”
A contemporaneidade das palavras de Kant é tremenda e não podemos deixar de lhe dar voz, pela sua própria pena: “(…) e que o barulho acerca do irresistível abastardamento crescente da nossa época provém precisamente de que, por se encontrar num estádio superior de moralidade, tem diante de si um horizonte ainda mais vasto, e que o seu juízo sobre o que somos, em comparação com o que deveríamos ser, por conseguinte, a nossa auto censura se torna tanto mais severa quanto maior o número de estádios de moralidade que, no conjunto do curso do mundo de nós conhecido, já escalámos.”
É esta a mensagem de esperança que Kant nos deixa. Deixou-nos também a esperança numa federação de estados europeus, unidos por uma Constituição comum. Mais de 200 anos depois, parecemos estar a querer caminhar nesse sentido…



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