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A Intuição do Instante
(Gaston Bachelard)

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O grande pensador francês Gaston Bachelard (1884-1962) é bastante conhecido e renomado no mundo das ciências humanas por sua pungente produção científica acerca das questões epistemológicas e metodológicas da filosofia contemporânea. Inconformado com o racionalismo que imperava em sua época – herdado dos séculos XVIII e XIX – Bachelard valorizou a imagem poética das coisas e pôs o viés imaginativo a serviço do pensamento. Talvez por isso, por tanto tempo, tenha sido considerado como um filósofo “sem rigor”, a partir da perspectiva de cientificidade proposta por Husserl que predominava nos meios acadêmicos de então. Boa parte de sua obra – incluindo alguns de seus livros mais famosos como: A Poética do Espaço, A Poética do Devaneio, A Água e os Sonhos e O Ar e os Sonhos – é permeada por palavras (e conceitos) que fogem ao lugar comum: sonho, devaneio, poética, alquimia, tempo, imaginação. A riqueza de Bachelard consiste fundamentalmente em trazer para sua produção intelectual um duplo projeto: o aspecto “diurno” da sua obra – onde se inscrevem os conceitos mais ligados à epistemologia – e o aspecto “noturno” – onde aparece a complementaridade dos eixos da poesia (e do sonho – e posteriormente do devaneio) e da ciência. Ao aproximar os dois aspectos Bachelard demonstra que a cisão entre razão e imaginação fica bem clara se utilizarmos a via racional; se usarmos a via onírica a razão e a imaginação se articulam, se interpenetram e se tornam complementares.
Em “A Intuição do Instante” o autor desenvolve (e amplia) a idéia do historiador francês Gaston Roupnel (1872-1946) em um de seus mais importantes estudos – chamado Siloë – que propõe o olhar sobre a História numa perspectiva de tempo descontinuada, em instantes. Para Roupnel a verdadeira realidade do tempo é o instante. Esta proposta opõe-se explicitamente à teoria do filósofo Henri Bergson (1859-1941) que trata do Tempo como contínuo e um “todo” em si mesmo. A teoria bergsoniana é extremamente bela e complexa e é por Bachelard tratada com profundo respeito, ainda que ele discorde do filósofo – em alguns trechos até com uma acidez incomum – no que tange ao conceito da duração, da continuidade do Tempo. Bergson trata o Tempo como um todo, como uma duração contínua – um virtual que se atualiza a cada contração – e acredita que o presente é apenas um grau mais contraído do passado, não existindo verdadeiramente; para ele o instante é apenas uma abstração, desprovida de realidade. O que pode ser entendido como o “instante” bergsoniano é o momento em que no emaranhado dos significados que perambulam no “todo” a consciência eleja um ponto dentro dessa densa névoa que condense uma expressão compreensível, compatível com o tempo externo e mecânico compartilhado pelas pessoas, permitindo assim um significado único, uma contração, uma criação. Se para Bergson – na sua concepção de Tempo – o que existe é apenas o passado, mais contraído ou mais distendido dentro deste tempo virtual e que se contrai para o ato da criação, para Bachelard o Tempo é composto por uma sucessão de instantes descontínuos. Segundo o próprio Bachelard essa sua “conversão” a um novo modo de encarar o Tempo se dá a partir da publicação dos estudos de Einstein sobre a Teoria da Relatividade – já que o físico vê o instante como um átomo temporal, ou melhor, como a menor partícula real do tempo.
Bachelard mostra-se um leitor dedicado e atento as teorias de Bergson. A partir da demonstração de alguns dos principais conceitos da filosofia bergsoniana – duração, criação, impulso vital – ele desenvolve e alonga a tese de Roupnel refutando que “a duração não passa de um número cuja unidade é o instante”. Segue afirmando que a duração não tem força direta – já que não é em si representativa de um ato – e que o tempo real só existe verdadeiramente pelo instante isolado, esse sim, acontecendo inteiramente no presente, no ato. O autor propõe – na mesma corrente de Roupnel– que os hábitos e o progresso não se dissipam na descontinuidade do tempo; eles ganham força e uma nova dimensão. O grande mérito deste livro é trazer à tona a discussão entre dois grandes pensadores sobre o conceito de Tempo. Com suficiente clareza e fluidez na exposição de seu ponto de vista, Bachelard nos presenteia com uma forma delicada de escrita e reafirma o caráter universal de seu texto. A Intuição do Instante é uma verdadeira pérola bachelardiana e pode ser uma boa oportunidade para se conhecer o autor ou aprofundar-se nos caminhos da filosofia.



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