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O coração não engana
(João Massapina)

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VIII - NA INFÂNCIA NASCEU A AVERSÃO ÀS FARDASO inverno em Cinfães do Douro era algo de se levar muito a serio. O frio obrigava a cuidados especiais e rigorosos, e todos os anos a neve e o gelo apareciam para nosso desespero e simultaneamente para nossa grande alegria.Alguns dias, durante o ano lectivo, não existia condições para se poder ter aulas pois a neve e o gelo invadiam tudo, e ai as brincadeiras na neve ganhavam terreno. No jardim Serpa Pinto, realizavam-se os torneios de arremeço de bolas de neve, com alguns de nós a ficarem mal tratados, pois muitas vezes dentro da neve ia uma pedra para fazer peso, e com a quantidade de bolas atiradas a roupa acabava ensopada de tanta água derretida. Também se aproveitava para efectuar algumas maroteiras, como a colocação de montes de neve nas portas de pessoal conhecido e mais resingão, bem como a colocação de neve nos vidros dos carros que com o arrefecimento cedo se tornaria em gelo, impossibilitando a sua utilização pelos donos, sem uma boa limpeza.Como o nosso maior interesse era a diversão, nada melhor do que preparar os passeios publicos, para assistir a umas quantas boas quedas. Assim colocávamos neve e gelo, na quantidade certa, em frente de alguns estabelecimentos comerciais, e depois era só aguardar os efeitos, com um pouco de água por cima no momento proprio, para gelar um pouco, e nunca falhava, pelo menos uma meia duzia de trambulhões, durante uma manhã ou tarde, dava para assistir.E eram ilariantes as quedas, o pessoal até parecia que ficava pairando no ar a patinar em seco, para escolher para que lado ia cair.Depois era a risota geral! Até existia o concurso da melhor queda, e nesse recordo que o Major da GNR foi sempre o Campeão. Foi um dia preparado o terreno à porta da Singer, e como o Cavalheiro lá passava, sempre, para namoriscar uma das empregadas. Zás! Caiu que nem um patinho! Deu cá um destes trambulhões, que nem a farda escapou, ficou com as calças rasgadas num joelho, para além de ficar com todo o fardamento molhado e cheio da mistura de neve com terra.As empregadas da Singer não resistiram, e foi a risota geral. O tipo ficou tão embaraçado e irado que de palavrão em palavão, demonstrou toda a sua grande qualidade de cavalheiro, e nem as senhoras escaparam aos seus improperios, entre os normais desmandos linguisticos do pessoal do Norte de Portugal com os "caralhos e os foda-se" totalmente à solta.Foi o delirio da rapaziada!O Major da GNR no chão, era a nossa gloria suprema, nada tinha que vêr com as quedas de qualquer Manuel, Joaquim, José ou Maria, aquilo sim era um acto heroico, derrubar a autoridade, era um feito digno dos maiores herois.Durante muito tempo, quando viamos a personagem, ninguém resistia, a uma serie de gargalhadas.Claro que ele sempre suspeitou da origem do seu acidente, mas nunca lhe foi possivel provar nada contra nós, ou seja a equipa habitual ficava ilibada de culpas, e a preparação da grande actuação "circense" do Major da GNR ficou sem paternidade, até hoje.Mas a brincadeira de top maximo, para a época invernal, eram as construções de bonecos de neve, construidos à força de muita neve e decorados com cenouras e batatas roubadas um pouco por todo o lado, e também pedras. No dia seguinte ficavamos doentes, porque as constipações surgiam, e também porque depois de tanto trabalho com os bonecos, com o surgimento de alguns raios de sol os bonecos derretiam, e o trabalho lá se ia todo por água abaixo. Que frustração!Mas todos os anos se repetia o mesmo cenário, quem sabe se na esperança de que algum dos bonecos resistisse um pouco mais ao aumento da temperatura.O Major/Comandante da GNR local era uma vitima habitual das nossas diabruras. Era assim devido à sua prosapia, e mania de que era o centro do mundo, sempre com uma imensa "cagança" com o fardamento, com a viatura, e achando que todas as mulheres ficavam louquinhas pela sua aparência de macho latino das beiras, metido naquela farda de feijão cinzento, que na realidade o transformava em quem era, um autentico "bimbalhão"!Assim, desde tenra idade que aprendi a considerar aquele cavalheiro da fardamenta cinzenta com listinhas verdes, como alguém a quem deveria sujeitar a todas as investidas possiveis e imaginarias, e como tinha um desporto favorito que era regar as plantas da minha mãe, existentes no terraço dianteiro da casa, aproveitava as passagens no local do famoso Galâ da GNR, para namoriscar uma das empregadas da Singer, e com uma pontaria extraordinária colocava o bico fino do regador em posição e lá ia regando devagarinho, o chapeu redondo de pala, como forma de ensopar. outras vezes, ele tirava o chapeu, e então eu fazia-lhe pontaria na careca, e zás, era a risota geral pois o "palerma" olhava para cima, não me via, e dizia para dentro da loja; "... vejam lá que dia tão lindo que estava agorinha mesmo, e agora parece que esta a começar a chover, até já tenho uns pingos na cabeça". As empregadas, que já sabiam das minhas maroteiras, riam à farta, e o "palerma", achando-se engraçadinho ria também, e ia limpando a careca, e ao mesmo tempo olhava para cima, não sei se para vêr o estado do ceu, ou para tentar resolver aquele inigma de um dia de sol com água a cair-lhe em cima.A brincadeira das regas no Major da GNR só terminou porque um dia eu imaginei tirar-lhe o chapeu, e consegui, mas obviamente que acabei por ser descoberto, e oficialmente acusado por todas as ocorrencias anteriores. O que deu uma grande bronca, como se diz no Norte de Portugal: "uma bronca do camano"!Arranjei um fio de pesca e um anzol, e quando tive oportunidade, dediquei-me a pescar o chapeu do Major. Claro que depois de muito e paciente trabalho lá consegui colocar o anzol em posição, agarrar o chapeu e içar o mesmo. Foi uma gritaria pegada, e eu morto de riso lá em cima na varanda.Corri rapido para dentro de casa, e ofereci o chapeu à minha mãe que lho devolveu, assim que ele bateu à porta da cozinha. Após muitas desculpas por causa daquela minha impertinencia, a minha mãe fechou a porta e então foi a risota geral, por causa da cara do cavalheiro.Ele relembrou as anteriores molhas do chapeu da farda e da careca, e deduziu que teria sido sempre eu o causador das suas tristes figuras na via publica.No entanto, tudo ficou por conversa mole, "para boi dormir", pois o meu pai gostava tanto dele que o considerava como um "peixe podre", nunca entendi muito bem a razão dessa designação, se seria por causa da côr da sua farda ou se por causa dele cheirar sempre a pestilento suor a longa distancia.As brincadeiras da varanda ficaram por ai, mas a minha apetencia para fazer traquinices ao homem da farda cinzenta não acabou.Numa das suas visitas à Singer, resolvi levar mais a fundo a brincadeira com esta alta personalidade, e escutando o meu pai referir que se um carro tem o tubo de escape obstruido não se consegue fazer arrancar o motor, decido colocar uma batata na saida do tubo de escape do Jipe do Major/Comandante, enquanto ele gabarolava as suas aventuras em frente da loja da Singer.Mas não contente só com o facto de o carro não ir pegar, resolvi também abrir uma lata de óleo existente na garagem de casa, embeber um bocado de tecido em óleo, e colocar dentro do tubo de escape, antes de tapar tudo com a batata.Como o carro não pegava, o infeliz resolveu chamar um Guarda para o ajudar a vêr o que se passava com o motor da viatura. O Guarda chegou e depois de muitas observações, e tentativas, lá retirou a batata da saida do tubo de escape, perante a risota geral da malta, que se foi juntando em volta da viatura, para assistir.O "palerma" do Major, não satisfeito com a situação, e como o carro mesmo já sem a batata no escape não arrancava, mandou o Guarda entrar na viatura e dár repetidamente à chave para tentar colocar o carro a trab



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