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Voluntariado Jovem: Relato de transdiciplinaridade e valores humanos
(Alessandra Maletzki Ramasine)

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“...Amo aquele que não reserva uma gota de espírito para si, mas quer ser inteiro o espírito de sua virtude: assim ele passa com espírito por sobre a ponte. (...)Amo aquele cuja a alma se esbanja, que não quer gratidão e que não devolve: pois ele sempre dá e não quer poupar-se. (...)Amo aquele que justifica os futuros e redime os passados: pois ele quer ir ao fundo pelos presentes.”
Nietzche, em Assim falava Zaratustra.


Um Breve Histórico
Passaram-se alguns anos desde a minha chegada (mudança) ao novo contexto social, onde deveria morar, estudar e estabelecer vínculos. Naquela época, a Ilha do Governador ainda não era palco de conflitos comunitários que hoje se acumulam, mas que se pronunciavam de forma desorganizada, sem previsão estatística. Sempre tivemos uma única saída do bairro, a ponte que atravessava o mar até a Ilha do Fundão e desta para o continente; fato que nos mantinha de certa forma, isolados, apartados dos demais contextos culturais, sociais, profissionais,... Quem mora na Ilha do Governador, necessariamente não trabalha ou estuda no bairro. Assim que por determinação governamental, mais uma via de acesso para entrada e saída era construída; uma nova estrada que ampliava as condições precárias de transporte e locomoção dos habitantes. Pela Estrada das Canárias, passamos a ter acesso a locais desconhecidos. Muros altos, intransponíveis e sem identificação.
Muitas vezes, me peguei atravessando esse trajeto e questionando o quê de fato poderia ser tão complexo para ser tão bem resguardado ? Anos mais tarde, por curiosidade, fui informada de que os muros extensos e altos tratavam de abrigar adolescentes “em conflito com a lei”. Poderia ter me satisfeito com essa condição de saber e conviver com o fato como a maioria, não tivesse, eu, absoluta afinidade “social”. Particularmente, a despeito da formação especial, devotada e comprometida com as “causas”, de um modo geral que recebi desde adolescente de meus pais, sofria de um incômodo permanente acerca das injustiças e desmandos que por ocasião de já atuar como voluntária era testemunha. Pouco tempo demorou até que pudesse transpor os portões de ferro das unidades de cumprimento de medida sócio-educativa de internação e semi liberdade. Através de convite do então Coordenador do Sistema Degase, (que posteriormente tornou-se Diretor), Jaques Cavalcante 1, conhecemos as dependências do CRIAM 2, no bairro. Soubemos que havia, segundo os responsáveis, melhores condições de realizar as atividades na Escola João Luiz Alves, conhecida como “A Mansão” ! Assim foi que iniciamos nossa trajetória voluntária pelo Sistema Sócio-Educativo, levando uma equipe de 6 (seis) pessoas, profissionais de áreas diversas, mas acima de tudo voluntários, com a chancela do Geid 3 aos adolescentes meninos da unidade que abrigava a realidade que ainda desconhecíamos, por trás dos muros.
Na medida em que íamos realizando as atividades na prática, aprendíamos sobre a realidade do conflito, das demandas juvenis e especialmente compreendíamos e observávamos, a incoerência da medida sócio educativa em ambiente fechado que muito pouco se diferencia dentro da proposta de atendimento a um ser humano em desenvolvimento, das instâncias penais, opressoras e desiguais do sistema penitenciário. Devo confessar que a despeito de todas as dificuldades, privações e quase nenhuma atenção política à causa, ainda assim, encontrei profissionais zelosos, dedicados e comprometidos com a proposta de ressocializar. Equipes técnicas comprometidas com resultados para além dos divulgados nos relatórios; agentes educacionais, alguns verdadeiros “responsáveis”, destacando-se no processo sócio-educativo, pelos seus próprios exemplos de conduta, quando a regra em instância instituinte é manter a ordem, a qualquer custo. Nesse particular, abro um comentário para informação ao leitor - a respeito da existência de uma escola sócio educativa no Degase; que trata de capacitar e/ou reciclar os profissionais envolvidos no processo. Eu mesma me candidatei como voluntária e fui muito bem recebida em suas dependências e por seus profissionais para uma visão do sistema. Em minha turma (grupo formado por no máximo 15 pessoas), convivemos integrados: agentes disciplinares das unidades da capital e comarcas, professores e interessados da área sócio-educativa e jurídica. Devo confessar que por iniciativa própria, buscamos informações e inscrições. Na verdade, muito pouco se sabia sobre a medida sócio-educativa. Muito pouco se debatia sobre ela, seus efeitos e a quem serviam?... Alguns profissionais sequer sabiam (como até hoje) que a Escola promovia treinamentos, reciclagens,...
Como em tudo, o começo para nós também não foi fácil. Onde encontrar os “manuais”? Como lidar com um público que ninguém queria? Que a ninguém importava atender... Mas nos movia a questão de praticar e compartilhar cidadania. Por que essa realidade não podia ser compartilhada? Afinal, éramos vizinhos... Era de momentos compartilhados com a Direção da EJLA, na época Sidney Telles e Carlos Munay, além de muita conversa com agentes e coordenadores de plantão, como o caríssimo Carlos Miranda, que resgatávamos histórias não só dos meninos, mas da instituição. Preciso dizer que me encantei com as práticas sócio-educativas que constatei com meus próprios olhos nessa gestão. Sidney, por muitas vezes, nos permitiu desfrutar da parceria nos contando histórias; vi e participei das conversas sobre a vida e o viver, na horta que abastecia as refeições especiais que o Munay servia; acrescento que aprendi muita coisa sobre temperos, pois havia uma preocupação genuína dele em temperar o alimento do adolescente, do funcionário, ensinando a eles noções básicas de convivência e harmonia. ...Se comer é o melhor para crescer, comer junto tem função emocional, espiritual e cultural! Quantas vezes fomos convidados a participar, a estarmos juntos nessas horas?... A despeito da natureza da medida da internação, havia a possibilidade de ter consciência de que existem passagens na vida e que fazemos destas, portas para novas oportunidades.
Também não havia a projeção de mídia que há hoje. Não conhecíamos as estatísticas da então Secretaria de Direitos Humanos que, aliás, até hoje, em nova gestão pública, também desconhecemos. Falo de dados atualizados, fruto de parcerias com institutos de pesquisa e de relatórios qualitativos e quantitativos internos.
Tornamos-nos, então, pesquisadores. E de tanto importunar gente renomada, profissionais competentes como as equipes do Claves/Fiocruz, Ciespi/Puc-Universidade Santa Úrsula, órgãos de defesa dos direitos da infância e juventude, como a Abrinq e demais núcleos e experiências voluntárias espalhadas pelo Brasil (Recife, Porto Alegre, São Paulo) e Europa (Espanha!) e aprender com os adolescentes e suas trajetórias de rotatividade pelo sistema, chegamos ao que hoje nomeamos: Abordagem psicossocial em Valores Humanos.
Após dois anos, atuando junto aos adolescentes da EJLA, em seus 4(quatro) módulos (160 meninos, aumentando e diminuindo esse total), nos candidatamos então a desenvolver a proposta junto ao Educandário Santos Dumont, para meninas. Uma realidade completamente diferente, a despeito do tratamento direcionado, ser o mesmo. Com o agravante de que o período de desenvolvimento feminino requer mais cuidados! Precisamos estabelecer mais espaço, despadronizar nosso olhar e mudar o foco, uma vez que elas naturalmente se expõem, debatem e colocam. As atividades que davam certo com os meninos, não correspondiam às necessidades das meninas. Sabíamos da diferença de gênero, mas em tratando de valores, imaginávamos que em tese, a referência pudesse ser a mesma a ser utilizada.
Investimos então no tempo das atividades, na necessidade de compartilhar das histórias (no caso dos meninos, em grande parte, sonegadas...) e no fato de que precisaríamos de continuidade na abordagem dos temas, para que a falta de seqüência não fosse out



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