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Imigrantes de Leste: Vivências diferentes em espaço comum
(Helena Russo; Ana Soeiro)

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O tema das “migrações” não tem sido objecto predilecto de estudo nas diferentes Ciências Sociais. Talvez porque, num mundo tido, há milénios, como povoado sobretudo por gente sedentária, “migrar” pareça uma excepção.
É um equívoco. De facto, de acordo com o último “Relatório sobre o Desenvolvimento Humano”, da ONU, 16% da população mundial é nómada e 22% são cidadãos “deslocados”, ou seja, reconhecem estar, por tempo mais ou menos prolongado, fora do seu País ou Região de origem, por razões laborais, políticas, religiosas...; de facto, não seremos tão sedentários como parecemos.
Realçamos razões para a pertinência da obra.
Antes de mais, porque traz o tema “migrações”, mormente a chamada “nova imigração”, para o campo de estudo do Serviço Social.
Diz um Salmo bíblico “Todos somo imigrantes”. De facto, nem o fenómeno da globalização, nem o da mundialização dos problemas sociais, nos têm ajudado a dar-nos conta da precariedade dos nossos laços de pertença geográfica a um determinado espaço físico e territorial. É que, de facto, os últimos 600 anos foram tempos de verdadeiros fenómenos migratórios de massas, marcados por realidades como o tráfico de escravos, a deslocalização de povos e de grupos étnicos, nalguns caso, de tentativas, mais ou menos conseguidas, de extermínio de culturas. Mas, geralmente, sempre a favor e em nome da cultura dominante, ao tempo, a da Europa Ocidental. Episodicamente, como na primeira metade do século XX, os Europeus migraram dentro do seu Continente ou para o exterior (Américas), mas nem isso contribuiu para que o discurso sobre o sermos “sedentários” e “estáveis” tenha mudado. Vivemos na ilusão da estabilidade da pertença territorial.
Os “novos imigrantes”, os cidadãos dos países do Leste europeu e Brasil, por exemplo, também, talvez, tenham, antes de partir, sentido essa ilusão.
Os russos, ucranianos, moldavos, romenos, búlgaros, azéris, letões que, desde os anos 90, procuram os países do ocidente, como Portugal, habitavam em partes do Mundo que, antes da chamada queda do “Bloco de Leste”, viviam no sonho do pleno emprego; concordemos ou não com a filosofia e práticas políticas dos seus governos, o acesso generalizado ao ensino, á formação e qualificação profissional, a profissões especializadas e tecnológicas, existia e era real, assim como real era a qualidade dos serviços de saúde, de protecção social. Os ocidentais diriam que isso acontecia á custa da “privação das liberdades”, da ausência de padrões de consumo dignos dos tempos modernos...; a História encarregar-se-á de esclarecer esses temas e esse não é o nosso objectivo, aqui. Invocamos essas realidades somente para sublinhar que aquilo que obrigou esses cidadãos a sair dos seus países foi um fenómeno em tudo igual ao colonialismo de há 500 anos : a destruição cega e gratuita de sistemas sociais e a imposição de outros, importados do exterior.
De facto, o delirante desejo de, em definitivo, varrer do mapa as economias de direcção central e os modelos de governo baseados no chamado centralismo democrático (enfim, aquilo a que o ocidente, equívocamente, chamava os “regimes socialistas”), a par da necessidade de impor um pensamento único e uma filosofia e modelo político universal, pôs fim ao mundo bipolar, com dois blocos, filho da Guerra Fria, mas criou um mundo unipolar, que, caído o “muro”, impôs aos derrotados o seu modo de vida e, sobretudo, a sua economia.
Desequilibrados, em definitivo, os sistemas de regulação social aí vigentes, baseados num Estado paternal e tutelar, vieram ao de cima os mais sórdidos aspectos da natureza económica dos seres humanos : a concorrência selvagem, os sistemas de economia “negra” (mafias, tráfico), a ascensão social e riqueza rápida de quem a tal se adaptou.
Os “novos imigrantes” são, tantas vezes, antigos quadros qualificados, trabalhadores especializados que, há 20 anos, tinham ou sonhavam com um futuro profissional risonho e, pelo menos, seguro. Como nós, teriama sua família, veriam os seus filhos crescer, quotidianamente. Em nome das “liberdades individuais” e do “Mundo livre”, o novo capitalismo selvagem achou-se no direito de tudo isso lhes tirar.
Se, a este fenómeno da imigração de Leste, juntarmos o drama diário dos “boat people” que atravessam o Mediterrâneo e acostam (quando sobrevivem) no sul de Espanha ou França, provenientes do Magreb e, já, da Africa Negra, sentimos que começa a ser verdade aquilo que o “pai” da sociologia da negritude, Leopold Senghor previu, na sua aula de Doutoramento “Honoris Causa”, na Universidade de Évora, no longínquo ano de 1997, tendo, então, merecido pouco mais do que sorrisos benevolentes e trocistas : um dia, os povos explorados pelo ocidente atravessariam os mares e fronteiras e viriam apresentar-nos a “ factura” de 500 anos de História e exigir o seu imediato pagamento...
Cabe aos trabalhadores sociais e cientistas do social, Assistentes Sociais incluídos, participarem no complexo processo de “negociação” do pagamento dessa “factura”, através da elaboração de políticas sociais e medidas de política que respondam a estes novos problemas, e, sobretudo, mediar a construção do novo mundo que saíra deste processo de “cobrança”.
Daí a importância científica e política, deste estudo.
Finalmente, uma outra razão para a relevância deste estudo.
A sua leitura é um despertar para a cada vez mais urgente necessidade de nos capacitarmos para “negociar” a tal “factura” que os pobres, desprotegidos e excluídos, criados pelo modelo de mundo de que nós fomos beneficiários, finalmente nos começam, de várias formas, a apresentar.
E os novos imigrantes são só uma delas.



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