As visitas do Dr. Valdez
(João Paulo Borges Coelho)
Com o nascimento de um país denominado de Moçambique, e o final de um império governado pelos portugueses, onde era praticada a escravidão; foi dada a nacionalidade a todos os moçambicanos, tal como a justa e merecida liberdade.
Sá Amélia e Sá Caetana, junto com um jovem fiel escravo da família, Vicente; viajaram para Ponta Gêa com uma profunda tristeza por abandonarem a sua terra, a sua casa, os seus amigos; toda uma vida repleta de recordações havia ficado para trás…
Uma das irmãs, Sá Amélia, encontra-se com a sua saúde bastante degradada, destinada a uma cadeira de rodas para o resto dos seus dias e a um silêncio profundo demonstrador da sua amargura e tristeza perante a vida, o presente, o passado e até a sua actual morada. Desta forma, Sá Caetana junto com Vicente passam os seus dias a cuidar de Amélia, e é com grande paciência e carinho que o fazem, pois Amélia não é uma pessoa nada fácil de se perceber ou compreender…
Os dias vão-se passando no rés-do-chão daquele pequeno apartamento fechado ao mundo, e Amélia cada vez se nota mais doente, mais centrada no seu mundo silencioso e adormecido, esperando-se todos os dias o pior!
Vicente tem a ideia de se vestir como o Dr. Valdez, um médico muito amigo da família, por quem Sá Amélia sempre nutriu grande amor. Acontece que este médico já havia morrido há uns muitos bons anos; mas seria talvez a única forma de alegrar e dar um novo ânimo ao rosto da velha senhora, mesmo sendo a fingir, que ela recebesse a visita daquele seu amigo de longa data tão querido.
Nessa tarde a campainha toca, Caetana vai abrir a porta e surpreende-se com um Dr. Valdez ridículo aos seus olhos. Pensou para si que esta experiência não iria resultar, mas agora que começou não poderia desistir. Amélia não deu conta de que o pseudo-Dr. Valdez era na realidade o Vicente, e facto é que ficou com um novo alento para viver pois aquela visita havia lhe feito muito bem.
Acontece que Sá Amélia acaba por morrer, e com a morte acaba-se o sofrimento desta velha senhora em que já há muito tempo seu corpo havia morrido e só a sua mente ainda se mantinha de alguma forma lúcida e viva. Amélia foi enterrada naquela cidade, longe do Mucojo e, a sua irmã decide partir para junto da filha da sua falecida irmã, sua sobrinha; pois já nada mais a prende a esta cidade distante de tudo aquilo que conheceu e de tudo aquilo que gosta. Antes de partir dá a liberdade a Vicente, e não deixa de se preocupar com ele. A relação dela com Vicente já não é uma mera relação de patroa/escavo, mas sim de mãe para com o seu filho e, a hora da despedida é triste.
Este é um belo romance, um livro que ganhou o prémio José Craveirinha pela Associação de Escritores Moçambicanos e pela empresa de Cahora Bassa.
É uma história envolvente, interessante, que nos dá uma caracterização de personagens tanto directa como indirecta forçando o leitor a deduzir certas características, fazendo-o vibrar ainda mais com o livro…
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