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Diário de Notícias
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Miguel Torga está entre os MelhoresAntónio Arnaut era ainda um jovem, recém-licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, quando conheceu o poeta Miguel Torga. O primeiro encontro, na década de 60, teve lugar no consultório, no Largo da Portagem, em Coimbra, onde o escritor vestia ora a pele de escritor, ora a pele de médico de clínica geral, também especialista em “ouvidos, nariz e garganta”. Arnaut não tinha qualquer problema de saúde mas, neste dia, foi obrigado a fazer análises – não médicas mas sim literárias. Foi sujeito a um «interrogatório» sobre a obra de Torga e passou.Foi uma intervenção política de António Arnaut, advogado e ex-ministro da Saúde, na qual esteve presente Miguel Torga e o amigo Fernando Vale, que o levou até ao consultório de Adolfo Rocha. Dias antes, as palavras do jovem advogado tinham captado a atenção de Miguel Torga. «Quem é aquele rapaz?», perguntou o escritor a Fernando Vale. «É um advogado de Penela», respondeu. «Há-de levá-lo ao meu consultório», pediu Torga. Logo no primeiro encontro, Torga simpatizou com Arnaut e vice-versa. Desde então, o advogado passou a frequentar o consultório - «a sala de espera de muitas gerações de democratas e de pessoas ligadas à cultura de Coimbra».Numa das primeiras visitas, António Arnaut ousou pedir a Torga que autografasse o livro “Orfeu Rebelde”. Salvo raras excepções, o escritor não dava autógrafos - Arnaut desconhecia o facto. Uma vez mais, Torga recusou-se a assinar o livro mas deu-lhe um rasgo de esperança: «Não desanime, porque um dia, se o merecer, dou-lhe um autógrafo». As palavras “enervaram” o jovem advogado: «Fique sabendo que nunca me dará um autógrafo, porque não me sujeito a que julgue o meu merecimento». O assunto não mais foi abordado.Hoje, com 71 anos, António Arnaut continua a não ter um autógrafo de Miguel Torga, um pormenor quase insignificante quando colocado ao lado de mais de três décadas de amizade e de «convívio familiar». O advogado, que sabe de cor e salteado dezenas de excertos dos livros torguianos, é detentor da obra “Rampa”, emendada por Miguel Torga para uma reedição que não chegou a ser publicada. Do espólio de Arnaut fazem também parte uma edição clandestina do livro de contos “Montanha” (mais tarde intitulado “Contos da Montanha”), aprendido pela censura na década de 40, e uma placa interior do consultório médico do escritor. «É uma placa azul com letras brancas, muito bonita, em esmalte» onde se lê “Adolfo Rocha – Ouvidos, Nariz e Garganta”. Arnaut foi um dos pacientes de clínica geral do médico Adolfo Rocha. «O Torga sempre foi um grande clínico, não só porque sabia de medicina, como também porque conhecia a alma humana». “Poeta da Portugalidade”Miguel Torga também simpatizou com Maria Ermelinda, esposa de António Arnaut. Porquê? «Porque ela fazia um cabrito assado no forno que ele achava formidável» e também porque Maria Ermelinda era aldeã. «A minha mulher nasceu numa aldeia de Penela. Andámos juntos na 4.ª classe», explica o marido. «A sua mulher permaneceu aldeã, você não. Ela conserva a raiz vincada na terra onde nasceu, tal como eu. Você, sendo um camponês, traiu as suas origens, desenraizou-se. É hoje mais citadino do que rural», dizia Torga a Arnaut. «Torga era um escritor telúrico», explica o amigo. «Para ele, a autenticidade resultava da harmonia entre o homem e a natureza. Em primeiro lugar, Torga tinha uma ligação profunda a São Martinho de Anta». Por ordem decrescente, não menos importância dava a Trás-os-Montes, a Portugal e à «terra ibérica». Arnaut recorda uma frase do autor: «a minha pátria telúrica chega aos Pirinéus, mas a minha pátria cívica acaba em Barca d’Alva». Para António Arnaut, «o Torga, que se assumia como um camponês, é um poeta da Portugalidade» - «avivou-me o amor pela pátria, o gosto pela literatura e a responsabilidade da cidadania».António Arnaut conheceu Miguel Torga e Adolfo Rocha. «Como médico, foi igual a tantos outros. Como escritor, foi um dos melhores da língua portuguesa». Sobre a dupla personalidade do homem que viveu seis décadas em Coimbra, o advogado relembra palavras da autoria de Miguel Torga, publicadas no volume VI do “Diário”, em 1953: «É bom isto de ser médico e poeta/são dois a dar/os jovens vêm-me pedir ajuda porque faço versos/os velhos porque os posso medicar. Quando pela manhã abro a porta da tenda/há sempre dois sujeitos dentro de mim a dialogar/um a dizer mal do destino/ e o outro a dizer bem».



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