BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


O Cão que não sabia comunicar
(José Manuel Silva)

Publicidade
Os investigadores do Instituto de Pesquisa Mental de Palo Alto nas suas pesquisas sobre o comportamento humano vieram derrubar preconceitos há muito instalados na mente dos homens. Os axiomas, onde assentam todas as suas investigações, e que dizem que "é impossível não comunicar" e que "a realidade é criada pela comunicação" colocam em apuros um senso comum que sempre teve como dado adquirido o real, sentido e palpável, como único e objectivo. As ideias desenvolvidas pela escola californiana parecem cair por terra quando nos chega aos olhos uma banda desenhada que tem por nome "O cão mais zangado do mundo". David Lynch, o conhecido cineasta norte-americano, é o "pai" deste canídeo que nos interroga e desafia na sua crua imobilidade. O personagem, completamente hirto, cuja única demonstração de vida parece ser a audição de vozes dos humanos, que nunca aparecem à boca de cena, leva a duvidar das categóricas palavras dos investigadores daquele instituto californiano, mas torna-se o exemplo perfeito para questionar a realidade que nos cerca. Este personagem canino, aprisionado que está a uma realidade criada pela comunicação, oferece, no entanto, a possibilidade de questionar essa mesma realidade. Como defende Watzlawick, numa versão psicologizante do pragmatismo, "a ilusão mais perigosa de todas é a de que existe apenas uma realidade. Aquilo que de facto existe são várias perspectivas diferentes da realidade, algumas das quais contraditórias, mas todas resultantes da comunicação e não reflexos de verdades eternas e objectivas". O real deixa, assim, de ser monolítico para se tornar numa história contada em múltiplas vozes e pontuações, polifonias que podem nunca chegar a reencontrar-se numa ëcoisa em sií. Os "termos de sanidade e insanidade perdem os seus significados como atributos dos indivíduos", pois um dado comportamento só pode ser visto e estudado "no contexto onde ele figura". Antropomorfizando este cão desconcertante, tal como aparece na banda desenhada, podemos apontar semelhanças com os doentes do Dr Sacks, descritos no livro Despertares, vítimas da epidemia da doença do sono que se espalhou um pouco por todo mundo na década de 20 deste século. Referindo-se aos pacientes que adquiriram uma forma de aquinésia, o autor relata alguns desses casos nestes termos: "Ficavam conscientes e despertos - sem por isso ficarem completamente acordados; sentavam-se todo o dia nas suas cadeiras imóveis e mudos, completamente desprovidos de energia, de impetuosidade, de iniciativa, de motricidade, de apetite, de afecto ou de desejo; registavam o que se passava à sua volta sem atenção activa e com profunda indiferença". O cão, que muito adequadamente nem sequer tem nome, não se mexe, não dorme, manifesta-se por um imperceptível rosnar, acorrentado à sua trela, olha apenas especado, hirto e em fúria, aproximando-se de um estado de rigor mortis. Mas tal como nos doentes do Dr. Sacks, algo é pressentido na sua imobilidade de estátua ó "a inteligência, o humor mordaz e o seu discernimento para julgar os humanos". Oliver Sacks faz notar que alguns deste indivíduos, "que foram empurrados para as extremidades mais remotas e estranhas da possibilidade humana", viviam a sua situação "com uma perspicácia dessconcertante, retendo o poder de recordar, de comparar, de dissecar e de testemunhar. O seu destino, por assim dizer, foi o de se terem tornado testemunhas únicas de uma catástrofe única".



Resumos Relacionados


- O Caminho Da Autotransformação

- Os Melhores Discos Do Mundo: Pearl Jam - Ten

- Algumas Frases Sábias De Aristóteles

- Termos Relacionados Com A Semântica

- Livros E Vídeos Sobre The Doors E Jim Morrison



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia