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O Último Voo do Flamingo
(Mia Couto)

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O Último Voo do Flamingo (2005), de Mia Couto, relata a passagem de um inspetor das Nações Unidas, de origem italiana, pela vila de Tizangara, em Moçambique. A história é contada de acordo com os relatos, depoimentos e confissões presenciadas pelo “Tradutor de Tizangara”. No prefácio, o narrador logo nos conta que, certo tempo depois de “findada” a guerra em seu país, alguns soldados da onu explodiram. “Simplesmente, começaram a explodir. Hoje, um. Amanhã, mais outro. Até somarem, todos descontados, a quantia de cinco falecidos” (COUTO, 2005, p. 10)1. Depois já nos põe a dúvida: “explodiram na inteira realidade?” A história se inicia com o acontecimento na vila: um avultado e avulso membro, o sexo masculino, o pênis que está no meio de uma estrada da vila de Tizangara. É o caso número seis dos explodidos. E é nessa ocasião que o narrador é compelido a se apresentar perante o administrador local, Estevão Jonas, para ser imediatamente empossado no cargo de tradutor oficial para o italiano Massimo Risi. Massimo Risi estava na vila para investigar o caso dos pênis que sobravam dos corpos. Só isso. Disso dependia sua tão sonhada promoção dentro das Nações Unidas. Acompanhado do narrador, o italiano vai conhecendo alguns tipos da vila que acabam por transformar suas expectativas em expectativa nenhuma. Primeiro conheceu Anadeusqueira, a puta, e o administrador, Estevão Jonas, logo na estrada, no acontecido do sexo decepado; depois Chupanga, o puxa-saco do administrador; o hospedeiro da pousada onde ficou instalado; e, mais intensamente, conheceu Temporina, uma moça formosa com rosto de velha. Mais à frente, outros personagens são apresentados, como o Padre Muhando, que tem uma relação muito particular e íntima com Deus; o pai do narrador, Sulplício; Zeca Andorinho, o feiticeiro; Hortência, tia de Temporina, que está morta. Obviamente, há um estranhamento por parte do europeu; algumas coisas não parecem estar na ordem direita e natural das coisas. Em certo momento, o narrador conta a Risi um pouco da sua vida, de sua mãe que morrera em seus braços e sobre seu pai, que a abandonara depois de saber que o ventre da sua senhora se fechara. Pensamos que sabemos o que sobrou deles. Mas o que realmente sobrou deles? Abaixo, estabeleço uma hipótese, mostro uma linha de raciocínio, uma seqüência que sugere uma conseqüência: PÊNIS, REPRODUÇÃO, SEMENTE, FECUNDIDADE, TERRA, FRUTOS. Em O Último Voo do Flamingo, no início, um pênis é encontrado no chão da estrada. É tudo o que sobrou do soldado que explodiu, exceto pelo capacete azul celeste, símbolo das forças de paz da onu. Pois então, a partir dessas evidências, é possível inferir que a presença de um corpo militar internacional não será curta no espaço de tempo. Ao contrário, será uma presença clara, sem pudor, que pode ser representada pelo capacete de cada soldado e pelo pênis, a “semente” junto ao solo. Isto é apenas uma hipótese verdadeira se tomarmos o pênis como símbolo fálico de “fertilidade masculina”. Outra hipótese é tomarmos o pênis como símbolo de ruptura, de desvirginamento; assim, o símbolo nos dá uma idéia de invasão do estranho no Estado Moçambicano, um estrangeiro que realmente não faz idéia do que se passa e tampouco procura entender o que se passa. Por ruptura podemos, ainda, acreditar que é a própria ruptura do corpo físico dos soldados, uma ruptura com esse mundo, um arrombamento, uma explosão. Ou, simplesmente, a humilhação da recém-desmaculada terra africana, ex-colônia portuguesa, uma invasão, um estupro. E os culpados por esse estupro (o mais recente) da mãe África são punidos com a morte, com a explosão de seus corpos. Depois de ouvir depoimentos gravados, ler relatórios e conversar, ou pelo menos escutar os habitantes de Tizangara, Massimo Risi não chega à conclusão nenhuma. Nem o leitor. No entanto, há uma passagem do livro em que Estevão Jonas escreve ao Ministro Central deixando transparecer que o mistério das explosões tem umaexplicação. Pois sem desgraça, não há ajuda internacional. Se a guerra acabou, que fabriquemos mortos e doenças; criemos pobreza e fome; criemos o horror para o mundo todo ter com o que ou quem ser solidário e piedoso. Os dois últimos soldados que explodiram eram um zambiano e outro paquistanês, não respectivamente. O momento em que o paquistanês morre é justamente o momento em que Estevão Jonas está “amaciando as carnes” de uma puta, uma anônima. Pois, no momento em que há a explosão, o pênis voa janela adentro da sala de Estevão e fica grudado em uma das pás do ventilador de teto. E não desgruda. É como se ele não quisesse ser expulso. É um argumento que dá uma pequena sustentação à primeira hipótese, a da incursão permanente dos militares da paz. Mesmo com as explosões de soldados, a presença estrangeira não se vai, ao contrário, fica presa nos lugares mais absurdos, em todos os cantos, em cima das árvores, pendurada nos galhos. A explosão só vem espalhar ainda mais o horror entre um povo que já está acostumado à violência. Torna-se impossível que o italiano possa compreender o que se passa na cabeça dos moçambicanos de Tizangara. O branco não pode compreender. O branco europeu, que usurpa e mata sem piedade. O africano não quer a ajuda do branco. Como disse a puta: “Morreram milhares de moçambicanos, nunca vos vimos cá. Agora, morrem cinco estrangeiros e já é o fim do mundo”.



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