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Um dia só
(Tiago Pereira)

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Sinto-me preso nesse cômodo de 3x2m, pelas grades da janela eu consigo ver a rua onde as pessoas circulam pra lá e pra cá, nem se quer me olham, nem se quer sabem que eu estou aqui. De onde estou consigo ver uma praça, com suas árvores grandes e imponentes, que na primavera ficam coloridas, cada qual com a sua cor. Em determinadas horas a praça fica cheia de crianças, o trânsito da rua aumenta ao extremo e a lentidão é inevitável, tudo normal, entrada e saída de escola são assim mesmo. Mas hoje tudo é diferente, olhando pra fora não consigo ver as grades, nem a rua, a praça ou os estudantes, hoje, uma persiana azul me impede a visão, nem a luz do Sol foi convidada a entrar. Hoje, um vazio tomou conta do meu ser, nada mais do que está acontecendo lá fora me interessa. Ontem, antes de dormir, abri um livro que você me deu há um tempo atrás. Pude sentir o seu cheiro estampado nele, juntamente com as lembranças de você e eu que, inevitavelmente, tomaram conta dos meus pensamentos. Está um belo dia lá fora, mas eu estou aqui, com milhões de tarefas e um horário a cumprir. Sinto-me preso. Eu só queria estar em um lugar longe, em uma cidadela qualquer, numa pequena praça, debaixo da sombra de uma árvore, podendo sentir a leve brisa que bate em nossos rostos em uma tarde de outono. Não sei se arrisco meu emprego e saio pela porta sem rumo e sem dizer uma só palavra a alguém ou se fico aqui, como um escravo do sistema, e cumpro meus afazeres sem reclamar ou incomodar ninguém. Todas as idéias convergem em minha cabeça enquanto o tempo vai passando. Tento esquecer essa idéia maluca de fugir e continuo o que estava fazendo, pareço um robô, estou no automático, atendo telefonemas, troco algumas palavras com alguém que passou, mas eu nem vi quem era ou o que eu disse, meu corpo está aqui, mas minha mente não, ela voa distante, longe, muito longe. De repente um silêncio inesperado, consigo ouvir as batidas do meu coração. Estranho. Será que eu estava pensando em voz alta e agora todos sabem que eu estou pensando em fugir? Afasto as persianas com a mão, a luz que vem de fora ilumina meu rosto, nenhuma pessoa, nenhum carro, nenhuma folha de árvore balançando, parece que a Terra parou de girar. Mais uma vez penso em você e que você não está aqui comigo, pelo contrário, está a centenas de quilômetros de distância. Então o telefone toca e tudo volta ao normal. Normal para quem já se acostumou com essa rotina, com esses horários determinados, com essa mesmice de todos os dias. Normal pra eles, não pra mim. Enquanto todos trabalham ou fingem que o fazem, eu só penso em fugir. Chega de só pensar, nossa vida é feita de atitudes, é preciso agir. Desligo meu computador, pego minha mochila e começo a jogar minhas coisas lá dentro, carteira, celular, óculos, e mais algumas outras coisas, arrumo tudo muito rápido, fecho o zíper e coloco-a nos ombros, pego meu capacete e passo pela porta em direção a moto, dou a partida e acelero, enquanto isso alguém grita pra mim: - Até amanhã! Só então eu olhei para o meu relógio e constatei que já eram seis da tarde, e com o desanimo que tomou conta do meu corpo eu retribui as palavras apenas com um aceno de mão. Fui pra casa com a sensação de um lutador que acaba de ser nocauteado. Parei em um bar no meio do caminho e tomei uma cerveja, sozinho, estava me sentindo um lixo e não queria conversar com ninguém. Comi qualquer coisa quando cheguei em casa e tomei um banho demorado, oito horas em ponto estava na cama pronto pra dormir e pensando que amanhã tudo seria diferente, pois você iria voltar, estaria comigo mais uma vez, seria diferente porque amanhã eu não dormiria mais sozinho.



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