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Uma Investigação Concernente ao Entendimento Humano
(David Hume)

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Numa crítica a Leibniz, Hume considerou que a inferência e as analogias que fazemos em relação aos efeitos de causas semelhantes não podem ser baseadas em nenhuma espécie de raciocínio formal, já que a experiência seria a fonte de tudo o que temos na mente. Sendo assim, as relações de idéias seriam baseadas em conceitos criados pelo homem, e todas as teorias gerais a respeito de objetos ou fatos da realidade seriam apenas probabilidades.
Hume considerou que, por causa dessa noção de causalidade que possuímos, costumamos afirmar mais do que vemos, ultrapassando a experiência imediata. Em nome desse princípio de causalidade, assumimos que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos. Por exemplo: eu coloco num congelador certa quantidade de água, e afirmo que a água que coloquei, ao atingir 0^o C, se transformará em gelo. Ao prever essa transformação eu estaria, segundo Hume, tirando "de um objeto uma conclusão que o ultrapassa". Não há como eu retirar da água, como objeto, a conclusão de que ela se transformará em gelo. Essa minha dedução vêm de minhas experiências passadas; ora, se em todas as ocasiões nas quais eu coloquei água a uma temperatura de 0^o C ela se transformou em gelo, a probabilidade de ela se transformar em gelo novamente nessa situação causal é muito grande. Portanto, afirmo que ela vai certamente se transformar em gelo, desconsiderando em minha afirmativa as possibilidades de algo imprevisto ocorrer e minha previsão se mostrar falha. Esse é o raciocínio experimental usual, pelo qual se conclui o futuro a partir do presente, baseado apenas em probabilidades (já que não temos mais nada além de probabilidades para definirmos uma situação futura a partir de sua causa presente). Nenhum argumento nos leva a inferir de qualidades sensíveis semelhantes efeitos semelhantes, mas sim o hábito e a experiência. Como fonte de tudo que há em nosso pensamento, são esses "grandes guias de tudo o que acontece na vida humana que sedimentam e dão origem a nossa preferência de uma probabilidade por outra." O que nos leva a ir para além do presente e da memória, segundo Hume , seriam as analogias suscitadas por algum objeto ou pessoa presente. Estamos sempre associando idéias (por causa e efeito, semelhança ou continuidade no espaço e tempo) de modo que ao perceber alguma realidade presente que nos é similar, ligamos a experiência passada que tivemos com esse objeto através da memória, e supomos que o futuro é irremediavelmente criado pelo passado.
Apesar disso, Hume não reivindicou provar que sejam falsas as proposições:

i.
Que eventos eles mesmos são relacionados causalmente;

ii.
Que eles serão relacionados no futuro do mesmo modo como eles eram no passado.
Ele acreditava nessas proposições e afirmava que essas seriam crenças naturais e inextinguíveis propensões da natureza do homem. O que ele reivindica provar é que elas não são obteníveis, e não podem ser iluminadas, nem pela observação empírica nem pela razão, seja intuitiva ou inferencial. O que Hume considera é que somente existe nossa experiência de que uma coisa se segue a outra, que os padrões de uma experiência passada se repetem e me dão a ilusão de causa e efeito, e simplesmente porque A sempre foi seguido de B, tomo A como causa necessária de B.
Portanto, segundo Hume, o conhecimento poderia ser dividido através de uma classificação binária dos objetos da consciência, que seriam:

Impressões, nas quais os dados seriam fornecidos pelos sentidos internos e externos. Seriam nossas impressões imediatas da realidade. Por exemplo, se eu vejo uma bela paisagem, o sentido externo da visão me proporciona a figura da paisagem em sí, e o sentido interno me diz que essa é realmente uma bela paisagem. Essas impressões dos sentidos seriam o que a mente possui de mais vívido.

Idéias, que seriam representações das memórias das impressões. Ou seja, seriam reproduções das impressões que tive. No exemplo da paisagem, se eu penso a respeito da figura que observei, a sensação de beleza não é tão forte quanto seria se eu a estivesse observando. Minha idéia da paisagem seria uma idéia complexa, na qual as idéias simples seriam as cores, a luminosidade, a sensação do vento batendo, o movimento das árvores, o formato delas, etc. A idéia de movimento contém a idéias de espaço e tempo, não importando se realmente existem coisas tais como movimentos Às idéias podem associar-se por semelhança (entre as impressões que representam), contigüidade espacial e temporal, e causalidade.
Deste modo, a realidade seria composta de outras realidades. Quando examinamos nossa idéia de um objeto individual, tudo o que encontraríamos seriam idéias simples que se uniriam para formar idéias complexas, segundo Hume. O que importaria não seriam as propriedades próprias da realidade, mas as relações implícitas nela. Tudo que a mente conteria seria, em primeiro lugar, ou "impressões", dados finais da sensação ou da consciência interna, ou idéias, derivadas dos dados por composição, transposição, aumento ou diminuição. Isto equivale a dizer que o homem não cria qualquer idéia.
É importante notar que o pensar e o sentir estão ligados e se afetam de forma recíproca, visto que nunca estamos apenas pensando ou apenas sentindo, mas sempre fazendo os dois ao mesmo tempo, embora em graus diferentes que se alteram. Além disso, Hume afirma que no processo o aspecto de clareza e vivacidade próprio da impressão infecta à idéia. O conhecimento científico é, portanto, irracional, pois a crença que está na base de todo o conhecimento natural não tem qualquer estruturação lógica pela via da dedução. Portanto, qualquer ciência demonstrativa de fatos é impossível.
O ponto de vista de Hume tem, então, uma grave implicação. É que, embora ele não o tenha colocado nestes termos, existe um total de causas convergentes para um dado efeito e a questão é se podemos ter o controle de todas as causas atuantes nesse conjunto, porque uma delas pode sempre falhar e criar a diferença no efeito do total de causas. Em conclusão, - embora Hume nunca tenha feito tal declaração -, a impossibilidade de enumerar todas as causas é, para ele, absoluta. Essa impossibilidade absoluta inviabiliza, evidentemente, o pensamento indutivo como caminho seguro para a verdade, e faz a ciência impossível.



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