Contradição e sobredeterminação
(Louis Althusser)
ALTHUSSER, Louis. “Contradição e sobredeterminação”. In: A favor de Marx. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. p. 75-102. Althusser comenta a conhecida expressão de Marx: “A dialética, em Hegel, está de cabeça para baixo. É preciso inverte-la para descobrir na ganga mística o nódulo racional.” Ele diz que a “ganga mística” a qual Marx SE refere é a filosofia especulativa e o “nódulo racional” a dialética. A “inversão” operada é apontada por Marx como uma inversão do “sentido” da dialética que, oposta à dialética hegeliana, será aplicada ao mundo real não à Idéia. Mas, diz Althusser, um elemento que complica esta interpretação é o fato de que a ideologia hegeliana contamina o seu método, ou seja, a dialética hegeliana é bastante influenciada pela ideologia de Hegel e não pode sofrer essa inversão de forma simples. O que deve ocorrer, para ele, é um processo de desmistificação, um descolamento da dialética hegeliana desse elemento que lhe é consubstancial, interno. A diferença da dialética de Marx em relação à dialética hegeliana, para Althusser, deve se manifestar na suas determinações e nas suas estruturas, já que ela se propõe racional e não mística-mistificada-mistificadora. Isso implica que as estruturas fundamentais da dialética hegeliana (negação da negação, identidade dos contrários, superação, transformação da quantidade em qualidade, contradição etc.) possuem em Marx uma estrutura diferente da possuem em Hegel. Partindo desse ponto, Althussser, julgando ser necessário refletir com maior profundidade acerca das diferenças entre estas duas dialéticas, se detém no conceito marxista de contradição. Ele toma como exemplo o que se passou na Rússia à época da revolução e o tema leninista do elo mais débil. Para Althusser, as contradições históricas que se acumularam em níveis local e mundial criaram um contexto favorável à eclosão da revolução na Rússia e não num outro país, onde o capitalismo estivesse fortalecido, justamente pelo fato de ser este um país onde os contrastes eram muito grandes. Althusser afirma que se a contradição em geral pode ser bastante para definir uma situação na qual a revolução está “na ordem do dia”, não é suficiente para provocar uma “situação revolucionária”. Para isto é preciso que as circunstâncias se acumulem a um ponto em que se fundam numa “unidade de ruptura”. Estas circunstâncias, contudo, não podem ser consideradas meros fenômenos da contradição geral que leva à fusão de contradições e posterior ruptura. Elas se originam das relações de produção que são, ao mesmo tempo, um dos termos e condição de existência da contradição. A contradição, ao ver de Althusser, ao mesmo tempo em que determina também é determinada pelas diversas instâncias que compõem a estrutura social, ou seja, ela é, em princípio, sobredeterminada. O fato de ser sobredeterminada faz com que a contradição marxista difira da contradição hegeliana. Isto porque Hegel fala de consciência e de mundos latentes como determinações diferentes da própria consciência presente, sendo meras antecipações de si ou alusões a si, não sendo determinações exteriores a ela – incorre assim num eterno voltar a si mesma.
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