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Incidente em Antares
(Erico Verissimo)

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A pacata Antares, no Rio Grande do Sul, às margens do rio Uruguai, é uma cidade como outra fronteiriça qualquer. Quando da sua fundação, recebeu o nome de Povinho da Caveira, mas a visita de um naturalista francês sugeriu a mudança do nome. A dinastia Vacariano manteve sua posição hegemônica até a chegada dos Campolargo que, valendo-se de uma amizade com o governador do Estado, compraram terras na região. Anacleto Campolargo e Chico Vacariano logo se estranharam na primeira vez que se cruzaram, e tal rivalidade foi passada aos descendentes. Antão Vacariano e Benjamim Campolargo se colocavam acima da lei e valiam-se da violência para a afirmação da família. Era o tempo da Revolução Federalista e a oposição municipal passou para o plano político: Vacarianos eram maragatos e Campolargos federalistas. O combate resultou no assassinato, na tortura, na humilhação pública e suicídio de Vacarianos e Campolargos. A rixa só terminou após sessenta anos, com a intervenção de Getúlio Vargas, que convenceu Benjamim e Xisto Vacariano da necessidade de união no Rio Grande do Sul. Os patriarcas das duas famílias morreram pouco depois do tratado de paz. Zózimo Campolargo era manipulado pela esposa D. Quita, que era muito amiga de D. Lanja, a esposa de Tibério Vacariano – firmando assim, para sempre, o fim da briga entre as famílias mais importantes da Antares. Tibério se aproveita da amizade com Getúlio pra fazer negócios não muito lícitos no Rio de Janeiro na época do Estado Novo e Zózimo, apolítico, morre mais tarde de leucemia. Governos se sucedem e Jango Goulart chega à Presidência – um grande risco de os esquerdistas tomarem o poder.
O incidente aconteceu à meia-noite da sexta-feira 13 de dezembro de 1963, quando sete mortos são impedidos de serem sepultados em virtude de uma greve dos operários que teve o apoio dos coveiros. O caixão de D. Quita – que estava do lado de fora do cemitério, junto aos outros féretros – foi violado, pois corria o boato de que a distinta senhora seria enterrada com suas mais valiosas jóias de família. Descobrindo que não era verdade, o ladrão fugiu. D. Quita se levanta e abre o caixão dos outros falecidos: Cícero Branco (o advogado antiético), Prof. Menandro Olinda (o pianista alienado), Barcelona (o sapateiro anarco-sindicalista), João da Paz (torturado até a morte devido a uma falsa acusação de atividade comunista), Erotildes (a prostituta decadente) e Pudim de Cachaça (o - adivinhem! - bêbado inveterado).
Explicando a situação e apresentando os defuntos, Cícero Branco toma a causa dos cadáveres, que decidem descer à cidade exigindo seu sepultamento. Pela manhã, sete mortos caminham até o centro da cidade causando ataques cardíacos e nervosos nos transeuntes. Fica combinado que eles se encontrariam novamente ao meio-dia na Praça da República.
D. Quita encontra seus descendentes brigando por suas jóias e as joga no vaso. Dr. Cícero flagra sua viúva na cama com um rapazote e não se comove. Prof. Menandro segue para casa para tocar piano. Barcelona vai assombrar o delegado. Erotildes vista uma amiga prostituta. Pudim de Cachaça vai encontrar seu companheiro de bebedeiras e pergunta se a esposa está bem, apesar de ter sido presa por envenená-lo. João da Paz arquiteta um plano de fuga com o Pe. Pedro-Paulo para sua esposa grávida.
A notícia se espalha pela cidadela e o prefeito reúne os ícones da sociedade que decidem propor aos mortos que se retirem até que a greve seja resolvida.
Ao meio-dia, a comissão encontra os cadáveres putrefatos no coreto da praça. Fazem-se as solicitações e propostas, mas não se entra em acordo. A população chega timidamente: abrem-se janelas, jovens empoleiram-se nas árvores, apesar do mau cheiro e das moscas que empestam o local.
Dr. Cícero então faz uma série de denúncias acerca da corrupção e roubalheiras cometidas pelos figurões de Antares. Barcelona segue o embalo e declara os adultérios e perversidades de vários esposos.
Abalada, a população tem uma de suas noites mais inquietas. Enquanto os defuntos apodreciam no coreto, casais se separavam e ratos invadiam as ruas.
O prefeito Major Vivaldino confessa seus crimes à mulher. O promotor Mirabeau Silva tenta provar sua "macheza" para a mulher. A esposa de João da Paz foge para a Argentina. O Dr. Lázaro procura o Pe. Pedro-Paulo para se confessar e se declara um covarde. Tibério Vacariano é obrigado a ficar na cama por causa da pressão. Egon Sturm, transtornado, revela seu lado nazista e sai atirando para exterminar os judeus. Valentina, casada com o juiz de Direito Quintiliano do Vale, admite sua infelicidade no relacionamento e seu desprezo pela fascinação do marido pela ascensão profissional. O dono do jornal local Lucas Faia passa a noite escrevendo. O Prof. Libindo Olivares entra em coma alcoólico depois de ser chamado de pederasta e mentiroso.
Guardas aduaneiros decidem pôr um fim na situação por si mesmos: atacam os cadáveres com pedras, paus e tudo que lhes caía nas mãos. Os mortos, não por dor, mas por verem que não eram bem-quistos na cidade, resolvem se dirigir aos seus caixões e esperar pacientemente pelo sepultamento.
Os grevistas permitem os enterros e no dia seguinte, sete corpos vão para debaixo da terra.
Começa a Operação Borracha, em que, pela negação e com o tempo, os cidadãos ilustres de Antares pretendem apagar da memória da cidade o incidente.
Sete anos depois, ninguém se lembra daquela sexta-feira 13 em que os mortos se levantaram lançando podridão pelos ares (literal e figurativamente).



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