BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


São Bernardo
(Graciliano Ramos)

Publicidade
O clímax surge quando o protagonista acha uma página de uma carta em que reconhece a letra de Madalena. Lendo-a, entende que é um texto que se dirige a um homem. É a prova de que precisava. Dirige-se à capela para tomar satisfações de Madalena, que tranqüilamente assume a autoria da carta, dizendo que o resto dela estava no escritório, informando ainda que Paulo Honório deveria lê-lo. Retira-se de cena (a forma com que Madalena sai de cena em muito lembra a maneira como Capitu agiu no momento em que recebeu a acusação de Bentinho, em Dom Casmurro, de que o havia traído. Nem se defendeu, nem reconheceu culpa), dizendo que precisava descansar, não sem antes informar que o ciúme é que havia detonado o relacionamento dos dois e também pedir para que ele tivesse mais paciência e consideração com as pessoas. Ela já havia tomado uma decisão drástica, mas o protagonista não a havia percebido.
Passa o resto da noite na capela, depois andando por suas terras. Ao amanhecer, gritos atraem sua atenção. Ao chegar a sua casa, descobre que Madalena havia-se suicidado, tomando veneno.
Instintivamente corre para o escritório e lê o resto da carta, que de fato era para um homem: ele próprio. Madalena despedia-se por meio dela.
A partir de então, começa a ruína de Paulo Honório. Ao passar por cima de Madalena, ao esmagá-la, já que ela era uma ameaça ao seu universo de valores, acabou tendo um veneno inoculado por sua esposa e que acaba dinamitando suas crenças. Em outras palavras: Madalena amava-o.
O dono da São Bernardo acaba descobrindo um conjunto de valores importantes que não têm espaço no universo materialista, coisificador que criou. O que fazer com as emoções, com o caráter humano? Perdido, desnorteado, depara-se com o vazio, com a inutilidade de sua existência, já que confundiu o “ter” com o “ser”. Acumulou bens, riquezas. Mas viveu? Começa aí sua decadência. Começa a derrocada da fazenda São Bernardo. E é nesse ponto que começa também a construção de São Bernardo, agora o romance.
Antes de encerrar, é importante lembrar alguns aspectos quanto ao estilo da obra. Em primeiro lugar, há um aspecto que atenta contra a sua verossimilhança, que é um célebre problema de incoerência: como um romance tão bem escrito como pôde ter sido produzido por um semi-analfabeto como Paulo Honório. É uma narrativa muito sofisticada para um narrador de caráter tão tosco.
Quando se menciona que a narrativa é sofisticada, não se quer dizer que haja rebuscamento. A linguagem do romance, seguindo o estilo de Graciliano Ramos, é extremamente econômica, enxuta. Mas densa de beleza (aliás, há nesse aspecto outro ponto de contato com Dom Casmurro. Assim como o narrador Bentinho, formado em Direito, vazará em sua narrativa uma linguagem jurídico, que não chega a ser claramente percebida pelo leitor, Paulo Honório derramará em São Bernardo toda uma linguagem típica de fazendeiro. É a linguagem revelando e denunciando uma visão de mundo).
Outra beleza pode ser percebida pela maneira como o tempo é trabalhado. Há o tempo do enunciado (a história em si, os fatos narrados) e o tempo da enunciação (o ato de narrar, de contar a história). O primeiro é pretérito. O segundo é presente. Mas há momentos magistrais, como os capítulos 19 e 36, em que, em meio à perturbação psicológica em que se encontra o narrador, os dois acabam-se misturando.
Todos esses elementos, portanto, fazem de São Bernardo uma obra do mais alto quilate, facilmente colocada entre os cinco melhores romances de nossa literatura.



Resumos Relacionados


- São Bernardo

- O Mundo à Revelia

- São Bernardo

- A Verossimilhança No Romance São Bernardo

- São Bernardo



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia