Resumo de Devaneios - Milly Lacombe

Devaneios 2Como disse Einstein, apenas a não existência de Deus poderia desculpá-lo de tanta miséria no mundo, que, segundo a crença evolucionistas, Ele criou (em seis dias, olha que ritmo alucinante) e coordena com mãos-de-ferro. Quanta ironia. Quanta contradição. Quanta falta de inquietude. Se Deus é esse cara intervencionista e carrancudo que nos controla pela imposição do medo e da culpa como pode ser Ele, também, o amor? E, sendo Ele esse controlador, como pode deixar que seus filhos morram agonizando de fome e doenças para as quais já existe cura e controle?Mas essa bronca com o divino só vale, claro, para quem acredita que Deus é esse cara intervencionista, capaz de punir com a fúria do capeta aqueles que não seguem sua cartilha de valores morais. Já para os que, como Platão, acham que Deus nada tem de intervencionista e se revela na harmonia das coisas da natureza – no pôr-do-sol, na plantas, nos homens, no amor, no sexo – não há por que desculpá-lo.\u003cbr\>Para esses, Deus é um cara\nboa praça, risonho, incapaz de punir. Para esses, Deus é um bonachão\nque, dando uma passada por aqui, não iria a uma loja da Prada comprar\ncalçados novos, ou passar as férias de inverno nos Alpes. Em vez disso,\niria para a África, para o sertão do Brasil, para a Palestina, para o\nAfeganistão. Iria visitar os que dele precisam, colocar a mão em suas\ncabeças, levar, a essa gente inocente e que sofre, um mínimo de\nconforto e esperança. E diria apenas para que desculpassem o egoísmo\nhumano, para que perdoassem nossas fraquezas, tanta vaidade, tanto ego,\ntanta falta de amor ao próximo e excesso de amor-próprio. Diria que não\npoderia fazer mais do que isso, não poderia fazer mais do que dar colo\ne confortá-los com palavras, e que, quando fosse preciso se comunicar\ncom Ele, que tentassem encontrá-lo na beleza da aurora, na perfeição\ndas ondas do mar, na diversidade de cores, formas, sons e espécies da\nnatureza. Porque aos que conseguissem fazer isso, enxergar Deus na\nharmonia da natureza, pertenceria o seu reino.\u003cbr\>\u003cbr\>Mas esse Deus não\nexiste para o Papa Prada. Para nosso Papa Prada o único Deus que existe\né um que, em meu imaginário, pela punição, pela raiva, pelos castigos\nque nos impõe, se parece mais com o diabo. E o diabo, esse sim, seria\ncapaz de deixar crianças morrendo de fome na África para ir fazer\ncompras na Prada.\u003cbr\>\u003cbr\>\u003c/span\>\u003cspan style\u003d\"font-size:78%\"\>Milly Lacombe é cronista do Blônicas e do \u003c/span\>\u003ca href\u003d\"http://bloggol.zip.net/\" target\u003d\"_blank\" onclick\u003d\"return top.js.OpenExtLink(window,event,this)\"\>\u003cspan style\u003d\"font-size:78%\"\>BlogGol\u003c/span\>\u003c/a\>\u003cspan style\u003d\"font-size:78%\"\>\n.\u003c/span\>\u003c/p\>\n \n \u003c/div\>\n \u003cdiv\>\n \u003cp\>\u003cspan\>\n \n Postado por\n \u003cspan\>Jana\u003c/span\>\n \n \u003c/span\> \u003cspan\>\n \n às\n \n \u003ca href\u003d\"http://textosinteligentes.blogsp ot.com/2006/01/devaneios-dominicais-milly-lacombe.html\"rel\u003d\"bookmark\" title\u003d\"permanent link\" target\u003d\"_blank\" onclick\u003d\"return top.js.OpenExtLink(window,event,this)\"\>\u003cabbr title\u003d\"2006-01-31T13:15:00-02:00\"\>",1> ); //Para esses, Deus é um cara boa praça, risonho, incapaz de punir. Para esses, Deus é um bonachão que, dando uma passada por aqui, não iria a uma loja da Prada comprar calçados novos, ou passar as férias de inverno nos Alpes. Em vez disso, iria para a África, para o sertão do Brasil, para a Palestina, para o Afeganistão. Iria visitar os que dele precisam, colocar a mão em suas cabeças, levar, a essa gente inocente e que sofre, um mínimo de conforto e esperança. E diria apenas para que desculpassem o egoísmo humano, para que perdoassem nossas fraquezas, tanta vaidade, tanto ego, tanta falta de amor ao próximo e excesso de amor-próprio. Diria que não poderia fazer mais do que isso, não poderia fazer mais do que dar colo e confortá-los com palavras, e que, quando fosse preciso se comunicar com Ele, que tentassem encontrá-lo na beleza da aurora, na perfeição das ondas do mar, na diversidade de cores, formas, sons e espécies da natureza. Porque aos que conseguissem fazer isso, enxergar Deus na harmonia da natureza, pertenceria o seu reino.

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