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O campo e a Cidade: na história e na literatura
(Raymond Williams)

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William procurava pensar a produção cultural dentro de seu contexto de criação relacionada à política e economia. O autor parte das representações na literatura sobre a vida no campo para discutir as transformações ocorridas no mundo do trabalho rural e sua relação com a cidade. Utiliza poemas campestres para demonstrar a transição do campesinato tradicional para o capitalismo agrário, como decorrência da revolução industrial, que teve como berço a Inglaterra. O ponto de partida da obra é a origem pobre do autor em uma cidade pequena e a relação de seu pai e avô com o trabalho e a terra. Ele entrelaça sua história pessoal com o processo de empobrecimento dos trabalhadores rurais ao comparar as trajetórias de ambos, pai e avô. O pai havia trabalhado em uma fazenda aos 12 anos e depois partiu para trabalhar na estrada de ferro; o avô perdeu o emprego e a casa e passou a trabalhar limpando galhos na estrada. O deslocamento do campo para a cidade é mostrado, também, através de sua família quando se refere à mesma como “dispersa — ao longo da estrada, da ferrovia, e agora em cartas e textos impressos.” O que se encontrava entre os dois extremos, campo e cidade, apresentava-se quase como efêmero ou desimportante. A passagem do campo para a cidade na história pessoal do autor é marcada por sua entrada na universidade e suas sensações sobre a cidade definidas na palavra “civilização”. O estranhamento do autor sobre sua posição no meio acadêmico ocorreu quando ele tomou contato com o que era denominado literatura campestre e as representações sobre a vida no campo. A partir de sua experiência de origem comparada à visão sobre o campo na academia, ele começou a se questionar, onde me situo em relação a esses escritores — num outro campo ou nesta cidade que dá valor as coisas? No capítulo II — “Um problema de perspectiva” —, Williams propõe a investigação das representações sobre os modos de vida no campo. E o primeiro ponto a ser problematizado é a definição de bucólico. Esta discussão será desenvolvida no capítulo III, “Bucólico e antibucólico”. Para discutir o significado de bucólico, Williams resgata o poema de Hesíodo, “Os trabalhos e os dias”, escrito no século IX a. C., que narra a relação do homem com a terra. Ele lembra que a poesia bucólica começou nos concursos de cantos pelos camponeses, e que nelas havia a coexistência da miséria, da fertilidade, da escassez do inverno e das alegrias do verão. Entretanto, a tensão pelo medo de perder as terras sempre foi uma presença constante para o campesinato, mas foi apagada das imagens sobre a vida campestre durante a retomada da cultura grega antiga pelo Renascimento. Restando o que o autor chamou de mundo edulcorado, que preferiu destacar da tradição bucólica a celebração da natureza como um refúgio às desordens da cidade. O bucólico se tornou apenas uma representação da beleza natural campestre e o camponês, não obstante suas dificuldades do cotidiano, foi integrado à essa paisagem construída para a aristocracia, desaparecendo a imagem do trabalhador. As interpretações sobre o bucolismo só atingiram o nível superficial, das formas através de uma idealização da vida campestre e não alcançaram a essência, o progressivo avanço do capitalismo agrário. A idealização do campo chegou ao seu máximo no neobucolismo: o campo era representado com ninfas e pastores em jardins; o dia-a-dia do trabalhador do campo desapareceu dando lugar à imagens que suscitavam a idéia de Idade do Ouro. A imagem campestre de bosques e mesas fartas fornecidas pela natureza na casa senhorial, este confundido com a imagem do nosso senhor que à todos alimenta passa a ser naturalizada na Inglaterra do século XVII – XVIII. Williams vê os poemas escritos nesse período como elogios sociais à aristocracia e seus agregados, e não descrições da vida rural. No capítulo IV — A Idade do Ouro — é discutida a questão sobre a idealização da vida no campo em sua relação com o capitalismo. Sobre a representação das relações econômicas e sociais rurais pré-capitalistas como “estáveis e recíprocas”, também pode ser feita uma leitura de elogio à ordem feudal e aristocrática. Esta visão equivocada sobre a “Idade do Ouro” nos campos foi adotada pelos críticos do capitalismo que viram no período anterior à sua consolidação, características humanitárias em detrimento da realidade de expropriação e miséria do campesinato. Esta observação do autor pode ser interpretada como uma censura construída no contexto da “nova esquerda britânica”, movimento do qual fazia parte. No capítulo V, Cidade e Campo, o autor retoma o ponto inicial do seu trabalho, os contrastes entre campo e cidade e os elos entre os dois. Tão importante quanto as diferenças culturais e de formato entre a vida campestre e a urbana, são os pontos de ligação econômicos e sociais entre as duas esferas. Um desses pontos convergentes é a exploração do trabalhador e a apropriação da terra, agora realizada também pelos “intrusos” urbanos, advogados, comerciantes, cortesãos. A estrutura de exploração dos trabalhadores já estabelecida pelas aristocracias rurais foi mantida por aqueles que adquiriam as fazendas através de casamentos por interesses ou processos judiciais. Williams viu na construção da imagem de simplicidade do camponês e do campo que priorizou o formato, o predomínio da superficialidade que ofuscou uma discussão mais profunda sobre a condição do trabalhador rural durante o processo de industrialização na Inglaterra.



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