Segredos da Voz - Erros de Emissão
(Manuela de Sá)
ERROS DE EMISSÃO
Estes erros correspondem a pelo menos uma falha de uma das respostas musculares aos estímulos nervosos a nível da laringe, faringe ou boca. Basta a descoordenação de um dos movimentos da epiglote, língua, palato mole, lábios, mandíbula, ou a falta de lubrificação da mucosa que envolve estes órgãos, ou a descontinuidade da coluna de ar, para que sejam desequilibrados todos os parâmetros intervenientes na emissão e para que esta resulte defeituosa. Alguns exemplos de disfunções:
1) Se, ao cantar, a laringe está tensa e demasiado alta, significa que os músculos depressores estão em desvantagem e que os seus antagonistas tomaram a dianteira (elevadores, músculos da língua e da deglutição). Num ponto extremo, os músculos milo-hioideu e geni-hioideu que elevam e puxam o osso hióide para a frente entram em colapso, e surge um tremor do queixo e da língua. Neste caso deve rever-se a respiração, e trabalhar a maleabilidade da mandíbula.
2) Quando há excesso de ar acumulado abaixo da glote, resulta daí um esforço muscular que pode resultar na subida da afinação desejada e na perda do controlo do fluxo de ar. Neste caso é necessário que o aluno inspire menos quantidade de ar, e que o economize a partir dos músculos intercostais.
3) Uma voz sem brilho é geralmente sinónimo de flacidez muscular e má enervação. Nestes casos devem realizar-se exercícios de rapidez e agilidade, para activar a enervação muscular. Deve também trabalhar-se a igualdade na emissão das vogais.
4) Uma voz demasiado clara ou “aberta” deve-se geralmente a uma escolha de vogais demasiado abertas, com excesso de materiais duros de reflexão (dentes), acompanhado de posição demasiado alta da laringe. Deve arredondar-se as vogais, procurando alguns materiais moles (como os lábios), como “adoçadores” acústicos, e uma posição mais relaxada da laringe.
5) Na voz demasiado surda ou abafada deve procurar-se materiais mais duros para a reflexão do som, e uma posição mais equilibrada da laringe, assim como a procura de pontos para as sensações vibratórias.
6) Vozes demasiado incipientes são sinónimo de atrofia muscular, e as forçadas são sinal de esforço. Deve utilizar-se um volume médio de voz, em que o aluno se sinta cómodo, sem chegar a um ou a outro extremo. Por vezes, nestes casos, o professor tenta contrariar a tendência funesta com o oposto, mas este tratamento deve ser entendido como transitório, como terapia de momento, devendo ser abandonado assim que o aluno se mostre capaz de cantar em meio-forte e perceba qual o equilíbrio necessário entre tensão e distensão. Aí o aluno estará apto a apreciar em pleno a maravilhosa sensação de tonicidade do corpo e da mente durante a emissão e terá compreendido que um som suave com a ressonância certa é passível de toda a dinâmica desejada.
7) Nas consoantes explosivas [p] [t] [k] o ar tem de estar aprisionado e em pressão na boca, não podendo escapar para a naso-faringe. Por esta razão é tão útil usá-las nas vozes muito nasaladas. Nestes casos, pode haver vários parâmetros a considerar, tais como: problemas nas vias aéreas superiores (são requeridos cuidados médicos), pouca mobilidade do palato mole (requer exercícios que fortaleçam os músculos do véu palatino) e dos músculos orofaciais (lábios e articulação temporo-mandibular; requer firmeza dos pontos articulatórios e eficácia de pressões intra-orais). Nas vozes hipo-nasaladas (voz de constipação) é necessário intensificar o uso de consoantes nasais.
8) Quando há falta de homogeneidade na extensão vocal, o equilíbrio de ressonâncias altas, médias e baixas deve ser revisto, de forma a aproximar as zonas extremas, encorpando a zona aguda e tornando mais leve a emissão dos graves.
9) Quando a voz apresenta falta de legato é necessário trabalhar as várias sílabas de uma frase, com igual intensidade. O efeito auditivo será próximo do legato, que só existe na realidade quando se trata de uma só vogal, ou de várias vogais com pontos de ressonância próximos e vibrato regular.
10) A afinação baixa deve-se principalmente a dois factores: ou a nota foi mal pensada ou o fluxo de ar não é controlado e, como consequência, a sua saída até aos ressoadores não é contínua. Neste caso, deve trabalhar-se o apoio intercostal.
11) Quando não se percebe o que o cantor diz, ou pior, não se percebe sequer em que idioma canta, é necessário fazer um trabalho de articulação e aperfeiçoamento fonético com todos os textos.
12) No caso de uma voz engolida é necessário trabalhar a flexibilidade de língua, não a deixando enrolar na parte posterior com espessamento da ponta. O aluno deve repousar a ponta da língua nos alvéolos da arcada dos dentes incisivos inferiores. Esta postura deverá manter-se até os sinais de som engolido desaparecerem; depois a língua poderá fazer o seu trabalho livremente.
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