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O PRAZER DO TEXTO
(Moacyr Scliar)

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Contar e ouvir histórias é algo que está, por assim dizer, embutido
em nosso genoma, um hábito que acompanha a humanidade desde há muito
tempo. No começo era o mito, aquela narrativa fantasiosa que passava de
geração em geração e que servia para proporcionar explicações sobre
coisas que intrigam e atemorizam as pessoas: a origem do universo, o
surgimento da vida, a morte.
Essas explicações substituíam um conhecimento o mais das vezes
inexistente (e que, em muitos aspectos, continua inexistente). Tinham o
grande mérito de neutralizar a ansiedade, esta constante acompanhante
do gênero humano.
Não é de admirar que textos fundadores da cultura, como é o caso da
Bíblia, assumam a forma de um conjunto de narrativas que fascinam
leitores geração após geração. E também não é de admirar que crianças
gostem tanto de ouvir histórias, coisa que os pais conhecem bem. Eles
sabem que a maneira de convencer filhos pequenos a ir para a cama é
justamente esta: propor-se a contar-lhes uma história.
Histórias reúnem conhecimento, emoção e prazer — aliás, Prazer do texto foi o título que o ensaísta francês Roland Barthes deu a um de seus livros.
Escrever é um ato eminentemente solitário. É claro que o escritor pode
mostrar seus trabalhos a amigos, a conhecidos, à namorada ou à esposa,
desde que todas essas pessoas tenham paciência para isso. Mas a hora da
verdade é aquela em que o escritor vê-se diante da folha de papel ou
diante da tela do computador, para dizer a que veio. E aí não há jeito:
só pode contar consigo próprio. Se tiver talento, se tiver energia, se
tiver paciência, se tiver um pouco de sorte, desse esforço resultará um
livro.
Quando o livro é publicado, uma nova etapa se inicia. Porque o livro
terá leitores. E os leitores têm uma curiosidade que não se esgota só
na obra, e que se traduz em numerosas perguntas:
— De onde surgem as idéias para os textos?
— Como se escreve um romance: planejando a história ou deixando que os personagens tomam as rédeas da ação?
— Você tem horário para escrever?
Os leitores, sobretudo os jovens, querem respostas a essas perguntas. Para isso, precisam encontrar os escritores.
Para estes, o contato com leitores, em especial jovens, pode ser muito
gratificante. Não é, claro, essencial para o ofício da literatura,
ainda que desses encontros possam nascer idéias para textos. É outra
coisa. Sobretudo em países em que o escritor desempenha papel
importante como intelectual, como pessoa que procura entender o seu
tempo e transmitir o resultado desse entendimento a seus
contemporâneos.
Mas o contato com o público não deve ser visto só como uma tarefa
intelectual. É antes de mais nada um encontro agradável. E exatamente
por ser agradável desmistifica o escritor; mostra que este é um ser
humano igual a todos os outros, com as mesmas preocupações e as mesma
emoções.
O papo leitor-escritor é uma troca emocional. A pergunta fundamental a
um jovem que leu um texto não é: "O que quis o autor dizer?", mas sim:
"O que sentiste lendo esse texto?". A emoção abre caminho para o
entendimento. Entendemos aquilo que nos emociona, e nos emocionamos com
aquilo que entendemos. A literatura proporciona essa dupla
oportunidade. É por isso que a arte da contar histórias acompanha a
humanidade desde tempos muito remotos. E é por isso que as pessoas
gostam dos contadores de histórias — aí incluídos os escritores.



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