Memorial de Maria Moura
(Raquel de Queiroz)
MEMORIAL DE MARIA MOURA
A trama situa-se em meados do século XIX, no sertão nordestino, e conta a história de Maria Moura, moça que é levada pelas circunstâncias a liderar um bando de aventureiros que praticam roubos e vivem de forma desregrada.
Memorial de Maria Moura, de 1992, é o último livro escrito pela cearense Raquel de Queiroz, a primeira mulher a ser eleita para a academia de letras. O romance acompanha a trajetória da protagonista, que, de uma moça sozinha e desamparada, se transforma em líder de um bando de aventureiros, semelhantes a jagunços, no sertão brasileiro, por volta de 1850. O livro serviu de inspiração para uma minissérie televisiva homônima.
AÇÃO E CONFLITO AMOROSO
Na década de 1930, Raquel de Queiroz foi uma das pioneiras da segunda fase do modernismo no Brasil, a fase regionalista, que privilegiava o retrato social, a descrição objetiva, a ênfase na ação exterior e a ambientação em espaços rurais, sertanejos, distantes dos grandes centros urbano. Esses elementos estão presentes em Memorial de Maria Moura. Embora seja uma obra de publicação mais recente, o estilo que consagrou a autora permanece. O livro pode, à primeira vista, intimidar o leitor comum por causa do volume, já que tem quase 500 páginas. Entretanto, a estrutura lembra o formato do antigo folhetim, com capítulos não muito longos, impregnados de ação conflito amoroso e tensão constante entre os personagens, o que prende a atenção.
Não por acaso, o romance foi adaptado para TV. Afinal, tem todos os elementos característicos das telenovelas. Outro fator que torna Memorial de Maria Moura uma obra de literatura acessível é a linguagem simples e direta, que busca reproduzir a fala do sertanejo, bem como retratar a cultura popular. A dedicatória do livro é dirigida a, entre outros, Elisabeth I, rainha da Inglaterra entre 1558 e 1603, que, segundo Raquel, serviu de inspiração para a criação de Maria Moura, pelo caráter forte e pela liderança nata. Elisabeth, em discurso para incentivar as tropas inglesas que enfrentariam a invencível armada espanhola, disse: “ Sei que tenho o corpo de uma mulher fraca e frágil; mas tenho também o coração e o estômago de um rei – e de um rei de Inglaterra!’’. Maria Moura afirma: “ nunca se viu mulher resistindo à força contra soldado. Mulher, pra homem (...) só serve pra dar faniquito. Pois, comigo eles vão ver. E, se eu sinto que perco a parada, vou-me embora com os meus homens, mas me retiro atirando. E deixo um estrago feio atrás de mim. (...) pra ninguém mais querer botar o pé no meu pescoço; ou me enforcar num armador de rede. Quem pensou nisso já morreu’’.
ENREDO
No início, a jovem Maria Moura, aos 17 anos, encontra a mãe morta, enforcada com o cordão de uma rede. A mulher aparentemente se suicidara. A moça, que já havia perdido o pai na infância, passa a ser criada pelo padrasto, Liberato, que a seduz, aproveitando-se da carência da garota, e a transforma em sua amante.
Um dia, Liberato tenta induzir Maria a assinar documentos que passariam para ele a propriedade herdada de seu pai. Diante da recusa, o padrasto a ameaça e insinua que a mãe de Maria talvez não tivesse se matado, mas sido assassinada, o que se confirma depois. O motivo era o mesmo do conflito naquele momento: a mãe também se negara a assinar o documento. Maria Moura, aos poucos, vai perdendo o medo, até que decide matar Liberato. Apesar de tornar-se durante a narrativa, uma mulher de fibra, muitas vezes fria e impiedosa, ela nunca havia matado ninguém, sempre encarregando outros de fazer isso: “Não sei bem se sou capaz de ver sangue derramado. Nunca experimentei ver de perto o sangue dos outros; e pior será se for tirado pela minha mão”.
Primeiro, ela seduz um caboclo da região, Jardilino, que mata seu padrasto, com a promessa de que se casaria com ela. Depois, diante da insistência e das ameaças do caboclo, que queria possuí-la. Maria induz o feitor de sua propriedade, João Rufo, a matar Jardilino. Maria Moura passa a viver na propriedade, o limoeiro, deixada pela família do pai. Contudo, a herança torna-se alvo da cobiça dos primos Irineu e Tonho e da mulher deste, Firma, que reivindicavam parte da propriedade. Diante da recusa de Maria, os primos apelam para a justiça e para a força. Não contavam, porém, com a resistência da garota que encontra capangas para defender a casa. Depois de trocarem tiros, Maria percebe que a inferioridade numérica e a falta de munição a levariam à derrota. Decide, então, numa atitude extrema, incendiar a sua tão cara residência para acobertar sua fuga e a de seus homens.
Maria Moura e seus homens, depois de escaparem do limoeiro, vagam pelo sertão, sem abrigo, com pouca água, passando as maiores privações, apenas repartindo o pouco alimento que conseguiam.
Acatando a liderança de Maria, o bando começa aos poucos a se organizar e se prover de montarias, alimentos e armas. Juntos, vivem inúmeras aventuras e seduzidos pelo ouro, começam a praticar roubos, durante um logo período, sempre obtendo sucesso, e vivem de forma desregrada. Estabelecem-se depois numa propriedade próxima à Lagoa do Socorro.
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