Família Escola de Vida
(Henrique Martires)
A resistência às mudanças no seio da família e a génesis da violência doméstica. “ Muitas pessoas reclamam de seu destino, pelo facto de não terem sido contempladas com um grande e definitivo amor. Mas a realidade é que um grande amor é fruto de sua maneira de existir .” Roberto T. Shinyashiki.Uma família é constituída por um conjunto de pessoas em relação umas com as outras. Neste universo, cada pessoa é única e tem o seu próprio modo de pensar e de se comportar, tem as suas próprias tendências, os seus diferentes anseios, com ideais de vida únicos e com modos diferentes de sentir e de ver o mundo. Todas essas características se exprimem, no seu conjunto, através de condutas, atitudes, posturas e acções que identificam um determinado tipo de família. O resultado final do modo como os membros dessa família se comportam, pode exprimir um sistema familiar maduro que por isso é capaz de fazer face às solicitações ambientais e aos problemas que se impõem no dia a dia dum modo equilibrado e bem adaptado, ou pelo contrário revelar uma família imatura que apresenta algumas falhas na solução dos problemas quotidianos, bem como uma dificuldade maior ou menor a se ajustarem duma forma harmoniosa aos obstáculos que se vão impondo.Nas famílias ditas maduras, as contrariedades e as dificuldades são discutidas em grupo, o diálogo é aberto e uma solução é encontrada na unanimidade dos membros que a compõem. A tensão gerada é mínima e predispõe o grupo a um ambiente agradável e saudável. As pessoas se comportam dum modo bem adaptado às circunstâncias e as famílias cultivam qualidades de tolerância, prudência e ponderação, o que as ajuda a atingir as metas e a se readaptarem adequadamente às adversidades e problemas quotidianos. As atitudes de resistência e rebelião são quase inexistentes e o clima assim gerado é normalmente bem tolerado por todos.Por outro lado, nas famílias imaturas, a solução dos problemas é difusa, por vezes imposta de uma forma ditatorial, outras vezes os problemas ficam simplesmente sem solução e o sistema tende a produzir comportamentos inadaptados ao contexto social e cultural da família. O diálogo é inexistente e ninguém tem direito de defender os seus pontos de vista sem ser de imediato punido ou ignorado. Isto gera tensão, causa decepções e frustrações. As pessoas sentem-se insatisfeitas, enervadas umas com as outras e, sendo incapazes de resolver as situações calmamente, no diálogo e na busca de soluções apropriadas, recorrem à violência verbal e por vezes à violência física como meio de impor o seu ponto de vista sem ter em conta o ponto de vista dos outros.A falta de harmonia neste tipo de relacionamento dá origem a soluções unilaterais e autoritárias. É o que caracteriza os sistemas ditos simples ou autocráticos. A maior parte das vezes a família vive esta situação como injusta e o desapontamento daí decorrente, provoca pouco a pouco um estado de revolta geral, muitas vezes insidioso, mas que pode originar mais tarde actos de rebelião declarada. Uma outra característica dos sistemas imaturos é a baixa tolerância à frustração, o que leva as pessoas a tomar atitudes impulsivas, precipitadas e irreflectidas que podem causar muito sofrimento tanto para elas mesmas, como para os que com elas convivem.A maturidade dum sistema familiar pode assim definir-se como a maior ou menor capacidade que as famílias têm de fazer face às tensões e problemas que surgem no dia a dia, de se adaptarem a elas adequadamente e de produzirem soluções apropriadas. As decisões levam quase sempre a conclusões que se harmonizam com os desejos e sensibilidades de cada elemento do grupo o que suscita resultados positivos e de efeitos benéficos que ajudam sistema a crescer e a prosperar.Se pelo contrário no seio da família se percebe uma forte resistência às mudanças, perpetrando os costumes, atitudes e usos inadaptados dos seus antepassados, o sistema pode não gerar crescimento e estagna. A vivência neste desconforto, criado pela repetição de comportamentos desajustados, induz crises e conflitos que contribuem, muitas vezes, para o esgotamento e a ruptura das relações no seio da família.As crianças que vivem em ambientes de violência, são infelizes, têm a sensação de não ser amadas, pior, que não merecem ser amadas e não sabendo como proteger-se, usam o servilismo e a falsa humildade como meio de evitar o sofrimento da rejeição ou do sentimento de abandono.Este fenómeno impede a expressão espontânea das emoções e o sentimento de injustiça assim vivido produz recalcamento dos impulsos que vão mais tarde gerar sintomas de mau estar que se repercutem não só na família em geral mas sobretudo nos jovens em crescimento.Estas crianças procuram uma estratégia para evitar a agressão e aprendem que a cobardia é a conduta mais adequada para fugir ao sofrimento. Na idade adulta, insidiosamente começam a agir através de condutas de falsa modéstia, como meio de evitar o desprezo e a humilhação. Muitas vezes usam a astúcia como forma de seduzir e apaziguar a imaginada raiva dos outros, como faziam como o pai. Mas mais cedo ou mais tarde acabam por verificar que essa atitude é infrutífera e deixa um sentimento de frustração e desilusão.
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