O caçado de pipas
(Khaled Hosseini)
O livro traz como pano de fundo a paisagem e os costumes do Afeganistão durante a monarquia e depois, uma leve demonstração do país após a invasão soviética (nestes termos o autor não entra em muitos detalhes nem aponta a sociedade daquela época) e o governo dos talibãs. Este pano de fundo é na verdade um dos temas tratados delicadamente no livro que é a relação do homem com sua pátria. Nesta relação subentenda-se a cultura na modelagem da personalidade dos indivíduos. E a cultura afegã com todos os seus componentes (costumes, crenças, religião etc) estão presentes o tempo inteiro nesta obra de Khaled Hosseini. A história se passa pela relações sociais, culturais e pessoais cujos personagens principais que são Amir e Hassan.Viveram juntos até treze anos quando há uma ruptura proposital por Amir que se sobrepõe na relação devido aos privilégios de sua etnia e posição social. Os personagens secundários têm papéis fundamentais na cultura afegã, na construção da trama e para o desfecho que o autor vai dar ao drama que Amir vai enfrentar para conviver com as perdas que as escolhas trazem.A beleza desse romance está na lição da dor individual e coletiva que uma ação pode provocar e que o quanto é humano errar quando tomado os parâmetros culturais, étnicos ou religiosos para análise. Em dias cuja ética ou valores morais passam por questões materiais ou inexistem, é de fundamental importância romances como esse que nos leve a refletir o papel social, mas sobretudo os sentimentos (humanos) que envolvem as relações. Pontos tênues que estão na fragilidade das relações parentais, na relação pai-filho, nas relações sociais e nas relações de fé (religiosa); tais pontos são os momentos de mutação ou crescimento enquanto ser humano. Amir teve sua chance aos doze anos com relação à dignidade humana e a desperdiçou, pagando um preço alto por esta escolha. Mas teve a chance de se redimir e reencontrar com sua fragil estrutura humana. Esta redenção devolveu e dignidade e solidariedade, sendo que o primeiro traço da humanidade é exatamente a solidariedade.Mara Ramos, 05 de janeiro de 1998.
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