Ilusões
(Tom Farias)
Ilusões É avassalador este medo, me come a minha paz, e apaga os meus sonhos. Tripudia das minhas idéias e me joga no calabouço, onde eu me vejo igual um pobre miserável. Arrasta a minha pele pela lama devorando os meus desejos. Rasgo os papeis um por um e lanço-os na lixeira já cheia de minhas idéias mortas. O fervor se estala na minha alma como a angustia de um pobre diabo preso à espera de sua sentença de morte. Os cantos da casa parecem falar comigo. O cheiro do perfume dela me provoca quando vasculho os cosméticos que restarão sobre a penteadeira. O som do relógio zomba do meu inofensivo coração que tenta acompanhá-lo o seu tic-tac. Lá fora ouço a folia dos noturnos que aproveitaram a noite e agora vão dormir, e, acima da minha cabeça ouço marretadas, é mais um que aumenta o seu arem. Não tem pernas está minha solidão. Não tem braços este meu medo desvairado. Só tem ódio o cheiro forte nos lençóis. O frio me arrasta para pensar e eu choro sem ver as lagrimas. Até o latido do cão me incomoda, mesmo com o sol no topo do céu. Uma garrafa de vinho sobre a cômoda me faz lembrar que bebi, a noite passada. E logo o gosto acre aparece na minha língua. Troco passos pela sala e não são mais tão firmes agora são cheios de ecos. A geladeira não tem mais o mesmo cheiro, só o cheiro que tira o apetite de qualquer um. Roupas pelos cantos, correspondências no outro, e o meu corpo que treme com tudo isso. Nem o som dos pássaros me faz sentir em casa, e me pergunto. Será que este teto ainda é meu? A pergunta morre quando entro para o banho e fecho a porta. Depois de um bom banho o meu espírito agradece. Coloco na minha pele viciada por tecidos, roupas confortáveis. Tranco a porta e dou os passos que tantos gostam de ver quando pelas ruas das ilusões.
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