O Cavaleiro nas trevas
(Rodriguez)
Sentindo um ardor asfixiante no peito, o indivíduo penetrou nas muralhas insondáveis da fortaleza. O interior respirava o ar dos confins da história. O mofo vivia como no início, mas era renovado, lançava notas melódicas de harpas poeirentas. Torturado pela atmosfera densa, andou passos pesados até chegar por baixo de uma indecifrável cruz no tecto. Aquela muralha horizontal que lhe roubava as estrelas belas era cortada por duas linhas largas perpendiculares que, no ponto de intersecção, formavam um estranho triângulo onde a luz ganhava uma aparência multicolor. O céu agora carregado chamou pelas almas inquietas e ávidas de repouso. O cavaleiro ficou só. Apenas a dor e a tortura interior lhe faziam companhia naquela noite sombria. A Lua opaca também não morava já ali e a penumbra fez a sua completa aparição. Tremor no coração: o cavaleiro solitário sentiu a morte a sussurar-lhe ao ouvido palavras de aconchego. Alguém se preparava para o acolher naquele ermo onde as coisas alegres e palpáveis jamais haviam existido. Na escuridão, a indecifrável cruz tornava-se agora mais clara para o seu espírito cansado, como uma tocha que guia o caminhante perdido no meio da floresta densa. Seria a cruz da subida até à acalmia do esquecimento. Trepou os degraus em frente e seus olhos soltaram lágrimas. As trevas lentamente se começaram a dissipar. O rosto alvo de uma mulher de olhos sossegados sorria ternamente para ele. Nunca em vida tinha contemplado uma beleza assim, jamais seus olhos teriam aguentado tamanho encantamento sem que a submersão fatal tivesse lugar. Todavia, soube naquela hora que tudo fazia sentido, aquela alma era gémea da sua. Sempre a conhecera, sempre a amara. Caiu finalmente nos braços avidamente procurados. Chorou. De felicidade. Podia agora descansar para a eternidade da Lua. Rodriguez
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