MATÉRIA DE AMOR
(António Ramos Rosas)
Lendo a poesia de António Ramos Rosa isolado talvez podemos ter a sensação do fácil ou do anódino; quando ela for lida em conjunto, quer seja em livros ou em Antologia, podemos sentir a sensação do monótono ou do saturante. Pela tal razão devemos estar muito atentos contra a armadilha de tais sensações. Elas só permanecerão para aqueles que não saibam apreciar no íntimo os grandes desafios das pequenas diferenças. Porém, realmente é que as palavras nos poemas de Ramos Rosa possuem um peso sonoro e semântico que, muitas das vezes, facilite sua resistência ao desgaste quando funcionam como metáforas plenas de dinamismo e de mobilidade internos. Nos seus poemas muitas das vezes as palavras são monosilábicas, mas claras e plenas de energia. Também notamos no estudo do cromatismo que as palavras simples carregam frequentemente relações e significados complexos. Por exemplo, a palavra verde, mesmo no interior de um barco de folhagem verde, que deverá ser enquadrada no plano simbólico do sintagma ou então do verso. E noutros casos como:
< Um olho verde sob o musgo da árvore, ou < O fogo verde escuro daqueles olhos > E encontramos um olho metafórico e explicita uma qualidade comum a < olho , musgo, árvore >. Também constatamos que na poesia de Ramos Rosa que a cor preferida é o branco. Pois, notamos que quase não há poema em que o branco não compareça de maneira explícita. ( branco, alvo) ou implícita ( puro, claro, sol, luz, fogo, incêndio, o branco interior; < o raiar, duna, praia, espuma, etc., de maneira positiva ou de forma negativa ( sombra, negro, obscuro, escuro, noite.) “ Que bandeira vibrar que não seja a noite negra.” Pelo que constatamos, Ramos Rosa, possui a obsessão de claridade. Também notamos a sua progressão do exterior para o interior, do baixo para o alto; da margem para o centro ; do menos claro para o mais claro. Também notamos que a sua poesia mística quase sempre confronta com a poesia erótica. Eis a razão da proliferação na sua poesia dos oxímeros. “ quem pudera desatar o nó , oculto sempre/ o nome oculto sempre! / É um nome que eu quero dizer mas o que eu desejo não tem nome porque/ é anterior a todos as palavras, e / estas palavras têm todavia o júbilo/ ou o rio/ que sob elas flui. “.
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