Introdução ao tema Esotérico, crônica um
(Clara Azevedo)
, Tenho a sensação que esperei sete anos, o tempo que moro neste lugar de trezentas casas, para decidir escrever estas crônicas. Queria me sentir segura e com a tranquilidade nescessária para tratar de uma série de acontecimentos presentes em minha vida cotidiana na Vila de Paranapiacaba desde 1999. A reflexão metodológica no campo das ciências sociais e o meu senso de antropóloga investigadora formavam barreiras imaginárias e científicas a respeito da interpretação, e de minha própria aceitação, desta mesma série de acontecimentos _ os fantasmas, em especial os que ``vivem`` em Paranapiacaba. A magnífica e exuberante Mata Atlântica que envolve o vilarejo me deu o ingrediente primordial de abertura mental para transitar neste mundo limite do esoterismo e do espiritismo e assim acalmar meus anseios e incredulidades ( intimamente ligados a racionalidade da sociologia ativa) ao propor um descortinamento da realidade das coisas e dos meus objetos escolhidos, ah...eu os via, os sentia e os ouvia. ``A Vila de Paranapiacaba é, no Brasil, a única vila ferroviária conservada como em sua fundação e um marco da presença britânica no país. Foi construída pela São Paulo Railway Co. em 1867, (...)``. Sei que os seres são formados por 109 átomos e que estes átomos estão em constante movimento, gerando a vida todo o tempo, mas o que vivi na própria pele foi de arrepiar! Havia recém-chegado do Amapá e não quis mais viver em São Paulo, no cotidiano desta imensa cidade. Precisava ficar pertinho da natureza. Mudei para cá em tres viagens noturnas, no mesmo dia ( `aépoca dos fuscas clandestinos...), desmaiei de cansaço quando o dia amanhecia. Quando acordei era um dia de neblina absoluta. Eu não via nada nem ninguém. Todas as janelas de todas as casas estavam fechadas e tive a nítida primeira impressão de uma cidade de madeira abandonada. Senti presenças não mais físicas neste mesmo primeiro dia, os mortos e as energias me contataram de alguma maneira, fato que chamo de ``ver os fantasmas``. Na casa construída em peróba rosa onde passei a morar havia um porão de um metro aproximadamente e faltava uma grade de ferro que o protegia. Em meio a toda aquela sensação de frio que não passa que a neblina absoluta provoca, fui examinar o porão, entrando pela passagem suja e empoeirada. O cheiro de mofo, ocre, antigo, de um lugar que não era limpo há anos e anos me atingiu em cheio, provocando espirros e lágrimas de irritação, sai do porão suja e sufocada para respirar. Quando me ajoelhei do lado de fora da pequena calçada lateral da casa para olhar e tentar observar algo do porão escuro e vazado abaixo de duas casas geminadas, vi nitidamente uma criança. Era uma menina sorridente em pé, dentro do porão e com um bonito vestido branco cheio de lacinhos. Ela fazia sinais com as mãozinhas me chamando para entrar novamente no porão, sorrindo o tempo todo. Amo crianças, tenho toda uma vida dedicada a trabalhos e projetos envolvendo seus direitos e sua proteção, o que imagino agora ter sido responsável pelo fato de eu não ter me assustado. A palavra que escolho para descrever o que senti é perplexidade. O frio que eu já sentia naquele dia fechado e típico do vilarejo se multiplicou e senti como se fosse um choque, uma entrada em cachoeira geladíssima ou mesmo um 220 volts. Fechei os olhos instantaneamente e por breves instantes, imagino, eu e a menina fomos para o meio de um imenso e belíssimo jardim de grama verde clarinha, amigas, de mãos dadas, rodando e sorrindo juntas, quentes com um sol do meio dia sobre nossas cabeças. Abri os olhos em transe, estava agarrada na abertura do porão com as duas mãos e sentindo somente dor nos joelhos por estar ajoelhada. Olhe
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