Resumo de Recomeçar não existe - site ; composto pelo próprio

Sempre impliquei com a maioria dos verbos começados por "re". Re-pensar, re-fazer, re-moer, re-viver, re-iniciar, re-começar, re-cuperar, re-estabelecer. "Re" dá a idéia de que uma coisa que já foi feita será feita de novo. Como se o passado viesse a ser cirurgicamente "re-implantado" no presente. Daí minha implicação. Passado não serve para ser re-petido, re-editado, re-constituído. Muito menos pra ser imitado. No mundo de hoje, então, virou um péssimo modelo de funcionamento para as coisas da vida em geral, do modo de criar filhos às técnicas de organização de empresas.Sempre foi assim, ao longo de toda a história da humanidade, mas quase nem se notava o impacto dos "novos presentes" que surgiam simplesmente porque eles demoravam demais para surgir. Em alguns casos, séculos ou milénios. No mundo de hoje não é mais assim. Hoje em dia, mesmo passados muito recentes, coisa de meses ou dias, não servem mais como referência para a realidade mutante em que vivemos. Mesmo os "recém-passados" têm muito pouco a ver com os novíssimos problemas que a gente está enfrentando nos ainda mais novos presentes que surgem a todo instante.Aí vem alguém dizendo que é preciso recomeçar. Quando eu digo re-começar, minha referência não é um novo começo que eu preciso ter agora, mas o começo que eu já tive antes. Novo começo que dificilmente terá muita coisa em comum com qualquer começo que eu já tive antes. O verbo adequado não é recomeçar; é simplesmente começar. Começar algo inteiramente novo e inusitado. Sem nenhuma relação ou vínculo com os outros começos que eu já tive antes. Algo que brote do próprio presente, orientando meus passos para um futuro que não deve tentar ser nem continuidade, nem repetição do que já aconteceu, mas um salto qualitativo na minha história. Salto que pode até "dar errado", mas que represente uma tentativa nova de fazer algo novo, que represente erros novos...Recomeçar não existe. O que existe é começar sempre. Se eu quero ingressar no presente e no futuro devo romper com o passado. Posso até guardar dele boas lembranças, mas tenho que desistir da idéia persistente de reeditá-lo, a pretexto de continuar vivendo do modo que sempre vivi. Isso não é, nunca foi, possível. Mudança é rompimento, é descontinuidade.

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