O TEAR E O NOVELO - FÁBULAS
(LA FONTAINE)
Pelo menos três versões desta fábula correm mundo. A primeira parece que é da velha China. Ou será a da Suméria? Esopo contou e La Fontaine modificou. O tear estava em movimento com mãos de tecelão hábil. No meio do ruido e dos golpes de lançadeira, esta troçava dos novelos de seda soltando aquele fio tênue e insignificante: Que vale você, que precisa estar enrolada em novelo para parecer que é alguma coisa? Eu é que indico seu caminho e você fica onde eu mando! O tear não dava trégua, a lançadeira ia e vinha orgulhosa de seu trabalho. E o novelo soltava a linha calado. A linha não dizia nada, obediente, avançando e construindo tecido com seu corpo. Quando terminou o dia, a lançadeira olhou orgulhosa para a linda vestimenta que estava pronta e olhou para a linha sobranceira, antes de deitar na caixa do tecelão para dormir. Não sei se conseguiu dormir. É que a linha lhe desejou um bom sono e explicou: Agora você fica aí sem ação até que lhe dêm mais trabalho enquanto eu vou à festa me exibir em elegantes corpos ao som de belas músicas. A diferença é que na Suméria o novelo é de lã, no Egito é de algodão, na França de La Fontaine já é a agulha costurando. Aqui entre nós já se conta como apólogo da agulha e da linha com máquina de costura onde a agulha fala plic-plic-plic-plic... A linha que costurou o vestido repete a velha frase da primeira fábula. E o Fabulista completa sua avaliação dizendo que contou essa estória a um velho professor mestre-escola que comentou: Eu já servi de agulha para muita linha ordinária depois pavonear-se com o diploma. Que diremos hoje com a lei mandando dar diploma aprovando todos?
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