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Te pego lá fora
(Rodrigo Ciríaco)

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A coletânea de 25 contos divididos nas estações Verão, Outono, Inverno e Primavera relata o cotidiano das escolas públicas na periferia paulistana. Na batida do rap, na rima poética, na prosa ácida e na inovação linguística, desfechos inimagináveis. Em um deles, a própria escola narra sua origem esperançosa e seu trágico destino. A escola-mãe tenta compartilhar o pão-palavra, mas se perde na merenda feita às vezes de ração, para seus filhos aidéticos, prostitutas, drogados e outros desesperados, mortos-vivos por milagre.
Rodrigo Ciríaco, professor de escolas da periferia, escreve com sangue a vida que se esvai entre tudo o que poderia ser. O que poderia ser aparece nas propagandas do governo, quando mostra prédios arrumadinhos, limpinhos e equipadinhos. A realidade é outra, evidenciam fotos publicadas ao final do livro. Isto não é um lamento vazio de quem não tem vontades. O autor mostra que há desejo, sim. Mas, a desesperança dos alunos parece ser muito maior. E o descaso da hierarquia já nos núcleos educativos (secretárias, diretoria das escolas) dá mostras da ineficiência da superestrutura.
Ele conta sobre o preconceito de quem vê de fora (da periferia), pensando que todo brinquedo só pode ser uma arma, e da menina que vira uma placa e desiste dos estudos. A valorização da territorialidade pela qual a periferia se torna o centro e o centro a periferia, descentralizando o ponto de vista. O assalto cinematográfico da "pivetada" a uma... biblioteca. E as meninas super-poderosas que, dadas as condições, inacreditavelmente produzem um jornal.
Ele conta da aluna que foi solicitada a ler - durante uma cerimônia promovida pelo governo do Estado para enaltecer o ensino público -, e quando chegou ao púlpito, declarou que não sabia ler. Os meninos cooptados pelo tráfico, que acham sem graça ficar atrás de uma mesa escutando um letrado durante horas para aprender o que talvez nunca terão chances de usar na prática. E o professor que prefere a morte a continuar uma luta insana e, quem sabe, inútil.
O autor afirma que as histórias são fictícias. Percebe-se, no entanto, que inspiração não faltou, dada a desordem dos fatos na periferia para quem olha sob o ângulo do "como deveria ser" - porque com o que se paga aos governos, aqueles que não têm deveriam receber do bom e do melhor.
Voltando à escola-mãe, aquela coitada (estuprada) descrita no início deste texto, os contos de Rodrigo me fazem recordar uma letra de Carlos Drummond de Andrade, cujo início diz: "Eu preparo uma canção, em que minha mãe se reconheça e todas as mães se reconheçam, como se fossem dois olhos", e que acaba assim: "Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças". Pois Rodrigo sugere (ou grita, implora) que o despertar dos homens (públicos) faça com que um dia todas as crianças possam ter somente sonhos bons.
"Te pego lá fora", editado por uma casa alternativa da periferia da cidade de São Paulo, pode ser pedido ao próprio autor, pelo e-mail [email protected]. Outros contatos com Rodrigo Ciríaco podem ser feitos pelo blog: www.efeito-colateral.blogspot.com.



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