A arte de escrever
(Arthur Schopenhauer)
Nos cinco capítulos de “A arte de escrever”, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860 ) do século 19, descreve em linguagem simples, mas não simplória nem simplista, traços sobre a erudição e os eruditos; o pensar por si mesmo; a escrita e o estilo; a literatura e os livros; e a linguagem e as palavras.
“Um livro nunca pode ser mais do que a impressão dos pensamentos do autor. O valor desses pensamentos se encontra na matéria, portanto naquilo sobre o que ele pensou, ou na forma, isto é, na elaboração da matéria, portanto naquilo que ele pensou sobre aquela matéria.”
Segundo ele, a arte de escrever consiste na arte do bem pensar, considerando que o movimento de ida dos escritos para a mente do leitor (assimilação, elaboração) é mais difícil que o da impressão dos pensamentos do escritor no papel. Portanto, quanto menos aglomeração de conceitos num só parágrafo, melhor, porque cada conceito leva o leitor a pensar em uma cadeia significante.
Ainda sobre o estilo:
“Quem escreve de maneira displicente confessa com isso, antes de tudo, que ele mesmo não atribui grande valor a seus pensamentos. (...) Dizem que Platão redigiu a introdução de sua República sete vezes, com diversas modificações. (...) Contudo, assim como o desleixo na maneira de vestir revela o menosprezo pela sociedade na qual uma pessoa se apresenta, um estilo descuidado, negligente e ruim demonstra um menosprezo ofensivo pelo leitor, ao qual este retribui, com todo direito, deixando de ler o que foi escrito.”
Schopenhauer, aliás, sugere que ler bons livros é melhor do que se relacionar intensamente com a sociedade, porque a maioria das pessoas não é capaz de, em uma conversa, trocar tantas experiências ricas como é possível em uma boa “conversa” entre os pensamentos do autor e do leitor.
Ele destaca o conhecimento das línguas antigas, como o sânscrito, o latim e o grego, indicativo de refinamento, nobreza e enriquecimento tanto do escritor quanto do leitor, por alargar os horizontes do pensamento. Concede o uso de estangeirismos, porque há palavras que não encontram tradução literal em outros idiomas. E o texto traduzido é sempre a semelhança do que foi escrito e não literalmente o que quis dizer o autor - isto invalidaria em parte a tradução desta obra de Schopenhauer, por Pedro Süssekind, doutor em Filosofia pela UFRJ?
“Nobre ‘atualidade’, magníficos epígonos, uma geração amamentada pelo leite materno da filosofia de Hegel! Para obter o renome eterno, vocês querem imprimir suas garras em nossa velha língua, a fim de que a impressão, como um iconólito, guarde para sempre o vestígio de sua existência vazia e obtusa.” *A propósito, se algum leitor souber o significado de “iconólito”, por favor, escreva a esta autora. Procurei em dicionários e não o encontrei.
Ainda sobre a leitura e os livros...
“A ignorância degrada os homens somente quando se encontra associada à riqueza. O pobre é sujeitado por sua pobreza e necessidade; no seu caso, os trabalhos substituem o saber e ocupam o pensamento. Em contrapartida, os ricos que são ignorantes vivem apenas em função de seus prazeres e se assemelham ao gado, como se pode verificar diariamente. Além disso, ainda devem ser repreendidos por não usarem sua riqueza e ócio para aquilo que lhes conferiria maior valor.”
Ler muito não é solução, pois “muitos eruditos leram até ficarem burros”, porque ler demais e de tudo, sem intervalos para pensar no que foi lido, faz com que os leitores percam a capacidade de formular pensamentos próprios.
A arte de não ler...
“(...) Por isto é tão importante, em relação ao nosso hábito de leitura, a arte de não ler. Ela consiste na atitude de não escolher para ler o que, a cada momento determinado, constitui a ocupação do grande público; (...)”
Ele refere-se a textos políticos e literários, romances, poesias etc., que causam rebuliço momentaneamente e chegam a ter várias edições em seu primeiro e último ano de vida - seriam os bestsellers populares? E diferencia ao menos duas categorias de escritores, a dos bons, “gente que vive para a ciência ou a poesia”, e dos maus, “feita por gente que vive da ciência ou da poesia”.
Vale muito ler até mais de uma vez esta obra tão atual de Arthur Schopenhauer. Até porque ele mesmo aplica em seus escritos suas normas tão úteis aos demais autores. Para finalizar, algo que toca a nós, leitores: “Seria bom comprar livros se fosse possível comprar, junto com eles, o tempo para lê-los, mas é comum confundir a compra dos livros com a assimilação de seu conteúdo.”
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