No Auto da barca do Inferno, sua mais famosa peça, percebemos a galeria de tipos humanos satirizados por Gil Vicente. Esses tipos são os passageiros de duas barcas: uma delas comandada pelo Diabo, e a outra, por um Anjo. Os passageiros, que estão mortos, são submetidos a um interrogatório, após o qual embarcarão rumo ao Inferno ou ao Paraíso (simulando,assim, o Juízo Final).
A maioria deles, condenada por seu comportamento, vai para a barca do Diabo, superlotando-a. são eles: um fidalgo, um sapateiro, um alcoviteira, um padre e sua amante, um judeu, um enforcado, um agiota, um corregedor e um procurador.
Apenas cinco passageiros –um parvo (individuo tolo, simplório) e quatro cavaleiros (representando um único tipo) –embarcaram em companhia do Anjo. O parvo foi aceito pelo anjo porque, se pecou em vida, o fez sem consciência, sem maldade. Já os cavaleiros irão para o Paraíso porque morreram “pelejando por Cristo”, conforme as palavras do próprio Anjo.
Naquela época, “pelejar por Cristo” significava lutar contra os “infiéis”, ou seja, contra aqueles que não professavam o catolicismo. Dessa forma, por meio do discurso do Anjo, Gil Vicente demonstra que, embora criticasse ferrenhamente o clero, era um fervoroso defensor da fé católica.
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