Vou lhe mostrar o medo
(Nikolaj Frobenius)
Edgar Allan Poe viveu na primeira metade do século XIX. Faz exatamente 164 anos que ele morreu e suas obras: contos e poemas, continuam sendo objeto de curiosidade, estudo e fascinação. Quem, apaixonado por leitura, principalmente dos clássicos, ou mesmo por histórias de suspense ou terror, não leu uma das muitas obras de Poe? O Corvo, o poema com toques sobrenaturais, é, sem dúvida alguma, sua obra maior e mais famosa. Os que desejam ingressar na literatura, quer seja como simples leitores ou como escritores de ficção de terror ou suspense policial, não podem, e não devem, deixar de ler os contos de Edgar Poe. Sua obra é apaixonante. Claro, não tem o mesmo ritmo dos romances de terror e suspense policial modernos, mas, se considerarmos a época em que foram escritos, podemos dizer, sem sombra de dúvida, ou medo de errar, que Edgar Allan Poe inspirou toda uma legião de escritores do gênero terror-mistério policial ao longo de mais de um século e meio. Fascinante, não é mesmo? Edgar Allan Poecontinua vivo e atual até os dias de hoje, mesmo depois de quase dois séculos.Pois bem, e com esse mesmo fascínio nos debruçamos sobre Vou lhe mostrar o medo, de Nikolaj Frobenius. Romancista e poeta norueguês que, igualmente fascinado pelo trabalho de Poe,trouxe à luz do século XXI um romance igualmente fascinante, misterioso e viciante. Fazendo mais do que simplesmente recriar a vida de uma personalidade histórica, usando-a como pano de fundo, para tecer uma trama de mistério e assassinatos, Nikolaj recria a alma literária deEdgar Allan Poe. Vou lhe mostrar o medo é uma grata somatória de acontecimentos reais, vividos pelo romancista, poeta e crítico literário Edgar Poe, com ficção de mistério e suspense, no bom e velho estilo dos romances históricos de investigação criminal.A narrativa de Nikolaj é soberba, viciante e, algumas vezes, visceral e sombria. Narra a vida deEdgar Allan Poe como ela de fato foi: sofrida, para não dizer, triste. Uma mente privilegiada, dotada de um bom gosto cultural e literário, sui generis para a sua época, porém, uma alma atormentada pela visão da morte, pela pobreza sempre presente, a solidão, consumido pelo vício do álcool e acossado pela doença da mãe e da esposa (a tuberculose). Crítico literário, não perdoa os maus escritores, os impostores, os plagiadores. Persegue-os, humilha-os sem piedade, repudiando e destruindo-lhes a pretensão ao rol dos grandes contistas e romancistas da época. Com isso, Poe acarreta muitas inimizades e desafetos. Da mesma forma como ataca, é atacado. E ele, corajosamente, não foge às críticas às suas obras e ao seu estilo de vida. Sempre inconstante em seu humor, endividado financeiramente, vivendo às custas de suas críticas literárias publicadas em jornais, Poe encontra na figura do crítico e escritor Rufus Griswold um aliado e um inimigo. O duelo intelectual entre os dois, apresentado por Nikolaj em seu livro, é magnífico. Há quase um elo muito intimo a unir os dois que em dado momento parecem se amar tanto quanto se odeiam mutuamente.Nesse relacionamento conturbado entre Poe e Griswold, onde as aparências enganam mais do que elucidam, encontramos o personagem ficcional Samuel. Um escravo albino que também possui uma afeto único e obsessivo por Poe. Mas ao contrário de Rufus Griswold, que é atraído para Poe por causa de sua obra, Samuel é atraído para as obras do escritor por causa de Poe. E em até certo ponto da narrativa esse relacionamento mescla admiração e aversão, amor e ódio, amizade e traição. Griswold é irritante. Seu fanatismo religioso tanto o afasta de Poe, acusando-o quase sempre de imoral e ateu, ao mesmo tempo em que o crítico literário o faz amar e invejar os seus trabalhos. E nesse ínterim, os jornais nos dão conta de alguns crimes que vão ocorrendo em Nova York, os quais possuem estrita semelhança com alguns contos de Edgar. Gradativamente, a medida em que vamos mergulhando no mundo sombrio e triste de Edgar Allan Poe, em que somos arrastados por águas escuras e caudalosas de emoções conflitantes, nos deparamos com mistério e suspense que muito lembram a forma de escrita de Poe em seus contos. Tudo flui natural e deliciosamente, a medida em que Nikolaj escreve e nos coloca em contato com o mundo sobrenatural da mente do escritor centenário. E isso tudo com uma boa ambientação de época e ótimas descrições de cenas, além dos primorosos diálogos.Ainda, em sua narrativa, Nikolaj alterna entre a visão de autor, quando narra os aspectos da vida de Poe e de Griswold, para uma visão em primeira pessoa, narrada em carta, quando muda a nossa ótica para os pensamentos do escravo albino Samuel. Vou lhe mostrar o medo não é exatamente um romance histórico de suspense policial investigativo, como estamos acostumados com os romances nesse estilo, publicados atualmente.Nikolaj nos apresenta um texto mais ao estilo dos contos de Edgar Allan Poe, como O Gato Pretoe O Barril de Amontilhado, entre outros. Este livro resgata com mérito e louvor, o estilo que consagrou Edgar Allan Poe como o maior contista de suspense e mistério de todos os tempos. Tem um toque biográfico. Uma biografia romanceada com bons elementos de suspense, mistério, tragédia, morte, acontecimentos sobrenaturais, amor, traições, loucura e fatalismo.Uma obra indispensável. Amei ter lido esse livro e pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida de Edgar, porque sou fã desde que li o seu famoso poema, O Corvo. Eu o recomendo para quem deseja conhecer um pouco mais sobre a vida do autor; para os que são fãs do poeta; para os que curtem histórias de mistério e suspense no bom e velho estilo clássico.O trabalho editorial da Geração Editorial ficou ótimo. Adorei a capa e a diagramação do livro, além de todo o trabalho gráfico em si que, do meu ponto de vista, casou perfeitamente com a obra escrita. Uma excelente obra!
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