Shiva
(A.B.Yehoshua)
Para quem gosta de romances que se lê de um único fôlego, num final de semana, essa é uma ótima pedida. O autor nasceu em Jerusalém. Mas a história se passa entre a Inglaterra e a Índia. Misto de romance e livro de aventura, conta a experiência de um médico com ambição de galgar os degraus da carreira no hospital em que trabalha, inesperadamente convocado para uma viagem à Índia - não como médico, mas numa operação de resgate da filha do dono do hospital, uma jovem que foi à Índia a passeio, encantou-se e nunca mais voltou.
Bem, a história tem paixão, crise existencial, descrição de cenários belíssimos e de costumes e tradições estranhas ao ocidental comum. É um mergulho no mundo indiano, em suas contradições, na pobreza, na fé, nos rituais e no senso de destino do povo. Há uma passagem inesquecível que descreve a cremação dos corpos sobre o rio Ganges. E uma explicação sobre o significado dos rios - e da necessidade de se passar por três deles - para o homem.
Yehoshua aproveita situações críticas, em que o nível de tensão é alto, para descrever manobras médicas - tanto no hospital como em condições higiênicas da pior qualidade - de arrepiar os mais frios e distanciados leitores. Mostra-se um mestre em manipular os corações de seus leitores.
O livro é uma aventura. Cada parágrafo, cada capítulo, traz algo inesperado. Leva a pensar no imponderável, em questões nas quais normalmente evitamos tocar, como vida e morte, destino, o significado da existência. Não foi sem razão que Yehoshua escolheu a palavra Shiva para título. Seu significado, em hebraico, é retorno. O deus indiano que leva esse nome é o da destruição e da reconstrução. É fácil ler Shiva de um só fôlego. Difícil é parar de pensar, depois, nas questões que o livro levanta.
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