Raros: Mestre Duca
(Flávio Barreto)
O comum das coisas incomuns é que costumam acontecer raras vezes aos comuns. http://coisaegente.blogspot.com/
Canto para Mestre Duca Mestre Duca, todo o dia, paciente vai fazendo filas, uma depois da outra, seguindo sempre suas normas pra tudo ficar nos trilhos. E o que antes era uma pilha aos poucos toma sua forma. Quase sempre solitário, ?só das veiz que vem um filho?, com delicadeza, empenho e uma concentração sagrada como se fora um santuário, Mestre Duca pensa, franze o cenho, retoca um pouco aqui e ali, às vezes uma nadica de nada, mas só depois deste cuidado dá uma etapa por findada. Ah, Mestre Duca é ladrilheiro, um trabalhador brasileiro que com cimento e ladrilho vai deixando tudo alinhado. Homem simples, educado, de cor negra, cabelos brancos, que tem mulher e tem filhos e nada sabe de investimentos, os tais negócios com bancos, pensamento em maracutaias. Nisso, nunca botou tenência: trabalho, dignidade e decência sempre foram a sua praia. Por isso, ele pensa e não entende como esta gente sai dos trilhos e cada um pra um lado pende; se pensar muito, nem dorme. ?Ah, fosse aqui com meus ladrilhos, eu punha tudo nos conformes.?
Mestre Duca nem dá conta e até mesmo se espanta de saber que seu trabalho bota beleza no mundo. E se alguém lhe chama à parte pra dizer que ele faz obra de arte, Mestre Duca dá um sorriso maroto, coça a cabeça e o queixo, a pensar, como diz o outro, com seus botões de Mestre Duca: ?Que povo mais fora dos eixos, eita gente mais maluca!
Flávio BARRETO Leite - Niterói, 11 e 12 / Out. / 2006
Resumos Relacionados
- Sociedade Dos Poetas Mortos.
- Uma Breve Morfologia
- Nanocontagem
- Eu Gosto De OlhÃo
- Un Marito Necessario
|
|