A experiência religiosa: análise e compreensão (PARTE 1)
(António Caselas; António Lopes; Francisco Marques)
A religião sempre foi, e continua a ser, um caminho, uma “verdade” que o homem tende a não questionar, mas a aceitar como real. A experiência da transcendência é tida como a mais comum entre todos os fiéis. É no transcendente que o homem se conforta e encontra razões para seguir em frente. O transcendente [ou metafísico - sinónimo] manifesta-se numa pluralidade de formas e de figuras que são a origem dos sentimentos e da vida sacra. Vemos, então, os milagres e todas as intervenções do divino na nossa vida como a aparição de Deus no decorrer “natural” dos acontecimentos. Ele surge, de certo modo, para “suavizar” a finitude, a consciência de que a condição humana de viver está limitada pelo tempo, condições e sentimentos como solidão e tristeza. Filosofia da Religião: É a disciplina filosófica que estuda o fenómeno religioso em geral, a sua essência, as suas condições de possibilidade e o seu valor na humanidade, de forma racional e independente, com uso de um discurso que apenas admite as verdades reais dadas de razão e experiência. Ela mostra-nos como um problema pode ser tratado de diversas formas, em diferentes pontos de vista. Quando questionando a problemática da religião, sobre Deus, há diversas perspectivas: Ontológica: Deus existe? Metafísica: Qual é a essência de Deus? Cosmológica: O mundo foi criado por Deus? Política e sociológica: É Deus o poder máximo? Ética: Se Deus existe porque razão permite que haja o mal? Ecológica: Sendo Deus o criador da Natureza, podemos nós destruir a sua obra? Epistemológica: O estatuto das leis da Natureza depende da vontade de Deus? Antropológica: Podemos ser livres se Deus existe? Religiosa: O que esperamos da vida para além da morte, se é que existe? Teologia: è o discurso racional sobre Deus e parte de uma fé já admitida e inquestionável. Não se pergunta se «Deus existe?» mas «quem é Deus?». A Filosofia da Teologia divide-se segundo as atitudes dos filósofos perante factos religiosos. Teologia natural ou racional: parte da metafísica que estuda a existência e os atributos de Deus como Ser Absoluto, independente da experiência religiosa. Teologia Revelada: parte do fenómeno da Revelação de Deus à humanidade e surge numa dimensão marcada pela experiência religiosa. Aceita a autoridade dos textos sagrados e não questiona a hierarquização das instituições religiosas, os profetas e as escrituras antigas. Toma como certa a verdade sobrenatural sobre os factos religiosos.
Contudo, permanece um problema para a Filosofia: como analisar com clareza a experiência religiosa? O discurso filosófico, como é sabido, pretende descobrir o fundamento das coisas, os modos certos de referir-se aos seus objectos, de forma convincente e sólida. Encontra-mos, também, um problema aquando de caracterizar os acontecimentos. Ser religioso não significa obrigatoriamente ser sagrado e tudo o que é sagrado não tem que ser, por sua vez, religioso. A experiência religiosa vivida por cada um, segundo os filósofos, deveria ser repetível, transmissível, controlável, passiva e possível de comparar com experiências parecidas, contudo, a experiência é variável de pessoa para pessoa e a forma e intensidade com que é vivida uma vez pode mudar numa outra vez, sendo isso possível dentro da mesma religião ou em religiões diferentes. Mas, então, o que é a experiência religiosa? A experiência de que aqui falamos tem lugar geralmente no culto ritual colectivo: os representantes de Deus orientam os crentes através dos textos sagrados, sendo que os rituais representam o princípio da repetitividade. É, também, uma tentativa de ultrapassar as barreiras que existem a separar um homem de outro homem. Dizem os adeptos fanáticos pelo futebol que ser e apoiar um clube é como uma religião. Podemos dizer, sem reflexão, que não o podem afirmar ou podemos analisar a questão e abranger a “experiência religiosa” a mais áreas que não envolvam Deus? O seu culto ritual colectivo revê-se nas horas passadas a discutir factos e dados do clube ou a assistir aos jogos fervorosamente no estádio. Podem experimentar o fenómeno do transcendente quando pensam que tudo está acabado, que não há possibilidade de vencerem, e de repente os “milagres” acontecem e tudo muda! Mas, como dissemos à pouco, tudo o que rodeia o futebol pode ser sagrado para os seus adeptos, mas ser sagrado não quer dizer que seja religioso. Contudo, seguir o desporto como ele fosse Deus parece ter uma parte de religioso, de fé que não se questiona ou altera. Contudo, por muito que o queriam considerar como religião apenas podemos afirmá-lo num contexto metafórico e vasto, pois em concreto e respeitando as suas ideologias, o futebol pode ser sagrado mas não religioso. Mas, afinal, o que é o sagrado? O sagrado é um sentimento que toma o lugar de centro da vida religiosa, através da sensibilidade humana. Ele impõe respeito, devoção e não se cinge apenas ao racional, como experimenta também uma dimensão irracional, inexplicável. Deriva do sacer [latim], do delimitar, rodear, sacralizar e santificar e representa, então, tudo aquilo que está ou é delimitado, separado, reservado, proibido, inviolável, transcendente, intocável ou que suscita sentimentos contraditórios. É um elemento da consciência humana que dá continuidade e ordena o mundo exterior e supõe uma experiência inesgotável no sentido de racional, unificando a afirmando o existir concreto e afectivo do Homem. Como oposição ao sagrado, surge-nos o profano [profanum – do latim, fora do templo], tudo aquilo que é descontínuo, sem ordem; o mundo do uso comum, banal.
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