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Da Amizade
(Montaigne)

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Montaigne começa o texto explicando que não irá seguir uma coerência lógica, um fio condutor; ele não está produzindo um texto acadêmico, faz uma metáfora, comparando seu texto com uma criação artística, sem pretensões de ser uma obra prima.
Montaigne era um cético, e como tal, fazia possível que o conhecimento fosse contestado como uma grande ilusão. Um ensaio, o tipo de texto que ele produziu, é só uma forma de se pensar um assunto.
Montaigne, então introduz o assunto de forma aleatória, mencionando seu amigo La Boétie; diz que sua amizade era inteira e completa, e que surgiu a partir de todas as circunstâncias certas, tão raras que uma amizade perfeita só acontece de três em três séculos.
Cita vários gregos, porque a amizade era um grande valor para eles. Lembrando Aristóteles, coloca a amizade como assunto político: os bons legisladores deveriam se preocupar mais com a amizade do que com a justiça.
A seguir, Montaigne preocupa-se em fazer a distinção entre a amizade perfeita e outras coisas que possam parecer amizade, surgidas da satisfação de prazeres, de vantagens usufruídas através da relação, etc. Então, diferencia a amizade da relação entre pais e filhos: amigos estão em pé de igualdade e ambas as partes, na amizade, se aconselham e se repreendem. Pais não podem ser censurados por seus filhos nem dividir suas apreensões com eles, para não perder a autoridade nem deixá-los sem um ponto seguro de apoio.
Montaigne então diz que a amizade é melhor que o amor familiar por não ser imposta, é mais nobre. Prossegue distinguindo o amor da amizade. O amor é uma chama, portanto agitado, enquanto a amizade é serena. O amor é falta; quando se consegue o objeto de sua afeição, o desejo morre, enquanto a amizade não se esgota. Por isso Montaigne defendia que não pode haver amizade entre homens e mulheres, pois eles, os homens, as desejam de outra forma.
Montaigne critica o casamento, por ser imposto e de duração indeterminada. Critica também o fato de que nunca em sua vida havia encontrado uma mulher capaz de manter uma conversa interessante. O próximo assunto a ser criticado são as relações homossexuais entre jovens e homens mais velhos, na Grécia Antiga. Tais relações eram consideradas salutares. Justificavam dizendo que haveria crescimento mental e intelectual dos jovens. Montaigne, no séc. XVI, via isso com maus olhos. Argumentava que este tipo de relação, chamada de amizade, encobria o fato de que os tutores mais velhos só queriam os jovens para seu próprio prazer, pois para ensinar alguém não é necessário comércio sexual e, curiosamente, os mestres não tinham amigos feios ou velhos.
Ao discorrer sobre a amizade verdadeira, ele diz que a maturidade da alma é necessária para que ela aconteça. Então, as vidas dos amigos se fundem e viram uma só. Seus comentários conduzem a uma inexplicabilidade da amizade. Sua amizade com La Boétie foi tão repentina e inexplicável que pareceu um decreto da providência. Afirma que na amizade se conhece mais o outro do que a si mesmo, são uma pessoa só.
Termina o texto contando que quando La Boétie morreu ele, Montaigne, morreu junto.



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