Do ponto de vista dos nativos: a natureza do entendimento antropológico
(Clifford Geertz)
GEERTZ, Clifford. “Do ponto de vista dos nativos: a natureza do entendimento antropológico”. In: O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 85-107. Cap. 3 Geertz comenta sobre o caso do diário oculto de Malinowsky, publicado por sua mulher, também antropóloga e sua repercussão na Antropologia. O debate que se seguiu, para Geertz, centrou-se em questões superficiais do problema, pois na verdade não se tratava de uma questão simplesmente ética, nem interessava muito discutir a opinião de Malinowsky a respeito dos nativos. Tratava-se de uma questão epistemológica.O que Geertz coloca em questão é justamente o fato de como o antropólogo pode assumir o ponto de vista do nativo sem o necessitar de um “algo mais”, algo que signifique uma identificação transcultural entre pesquisador e nativo. Várias formulações foram baseadas em variadas oposições: descrições vistas de fora/vistas de dentro, descrições na primeira pessoa/na terceira pessoa, descrições fenomenológicas/objetivistas, descrições cognitivas/comportamentais, análises éticas/êmicas. O que ele considera “a forma mais simples e direta de colocar a questão” foi formulada pelo psicanalista Heinz Kohut, com os seus conceitos de “experiência-próxima” e “experiência-distante”: Isto porque Geertz quer enfatizar que se trata de uma questão de grau, não de oposição, ou seja, na antropologia não temos conceitos melhores que outros. Nem deve o antropólogo se limitar aos conceitos de experiência-próxima, os da antropologia, nem aos de experiência-distante, os dos nativos. O que importa é a relação que estes conceitos devem manter entre si para que a visão do antropólogo não subsuma a do nativo, e vice-versa. Como exemplo da visão que Geertz tem sobre o que é “ver as coisas do ponto de vista dos nativos”, ele cita um estudo que fez a respeito da definição de pessoa em três sociedades distintas: a javanesa, a balinesa e a marroquina. Para ele, este é um conceito que está presente, de forma distinta, em todos os grupos sociais. Geertz sugere para que possamos captar o ponto de vista do nativo, seja realizado um movimento dialético entre uma visão da totalidade através das partes que a compõem e uma visão das partes através da totalidade e vice-versa. Isto é, segundo ele, o que propõe o método intitulado por Dilthey de “círculo hermenêutico”.
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