A CORJA
(Camilo Castelo Branco)
A Corja reflecte, no que concerne à sua temática, os conflitos interiores que perturbam o autor e que derivam da sua educação e da sua vivência juvenil. Temas como a ruptura social, as relações amorosas clandestinas, o problema dos bastardos, a luta contra os amores contrariados por desníveis sociais, e o anticlericalismo, informam histórias protagonizadas por personagens como o trabalhador rural, o fidalgo de província, a burguesia urbana, e o "brasileiro" (português que enriquece no Brasil por meios menos lícitos), etc. Percorrendo as páginas desta novela e as de quase toda a obra de Camilo Castelo Branco, estes temas e estas personagens permitem-lhe recriar, de forma quase pictórica, a sua época.
A história da obra desenrola-se já numa época em que o boticário Eusébio Macário e família pertenciam a um estatuto social superior e foram viver para o Porto, onde a filha casa com um barão por meras razões de estatuto social.
O autor pretende criticar os burgueses, os aristocratas e o clero, aqui personificados pelas Famílias de Eusébio Macário e de Felícia e pelo Padre Justino. Tudo é permitido e tudo se aceita em nome do "estatuto", como exemplifica o casamento da aristocrata Felícia com um filho de Eusébio Macário, José Macário, mesmo sabendo-se que aquela era amante do Padre Justino e a quem continuava a dar notícias através das páginas do jornal "Periódico dos Pobres".
A hisstória conta-nos, fundamentalmente a vingança do Padre Justino que, sentindo-se despeitado com o casamento de Felícia, sua amante, cria uma intriga que provoca o divórcio e a empurra, de novo, para os seus braços. Paralelamente, e para fundamentar e acentuar a ausência de valores destas personagens, cruzam-se as histórias dos amores ilícitos de Custódia, mulher de Bento Macário (agora barão do Rabaçal), que, descoberta pelo marido, foge com o amante e a história do casamento de Eusébio Macário, já velho e sozinho, com Eufémia Troncha, mulher ambiciosa e calculista.
Repleta de ironia e mesmo sarcasmo, A Corja denota uma certa incapacidade do autor para sublimar muitos dos seus conflitos internos, nomeadamente o que opõe o seu meio cultural ao público para quem escreve e que decorre, na opinião e alguns estudiosos da sua obra, da necessidade de fazer face às reconhecidas dificuldades económicas que sentia..SOUSAFARIAS
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