D. Benedita
(Machado de Assis)
No aniversário de D. Benedita, a qual a idade não se sabia ao certo, embora esta não a escondesse, era de quarenta e dois anos. O filho de uma amiga, D. Maria dos Anjos, Leandrinho, fez um discurso um pouco inapropriado, trazendo à lembrança a figura do Desembargador Proença, marido de D. Benedita, que havia dois anos trabalhava no Pará. As más línguas falavam de outra mulher. Não segurando o choro a aniversariante saiu da sala. Leandrinho não conseguia tirar os olhos de sua filha, Eulália
. No dia seguinte tornou a sua casa D. Maria dos Anjos. A felicidade entre ambas era evidente, uma amizade natural e verdadeira. Cumprimentou D. Benedita e Eulália, embora houvesse uma diferença sutil de tratamento entre elas. Com Eulália houve algum tipo de observação, exame. Quando D. Maria retirou-se, fez-se um acordo que a dona da casa iria visitá-la e jantar com ela. D. Benedita acabou de escrever uma carta ao marido, dizendo de sua falta, e perguntando-o, sobre o que o cônego Roxo, seu amigo, dissera, de casar Eulália com Leandrinho. Sem saber o conteúdo da carta foi Eulália que a entregou aos correios.
A partir da idéia de visitar D. Maria, uma mudança ocorreu em seu humor, trazida por um início de enxaqueca, o que fez D. Benedita pensar em desistir do encontro, e mais tarde a tratar D. Maria com indiferença. Eulália que recusou de forma direta a possibilidade de comprometer-se com Leandrinho, ao cônego, estimulou sua mãe a ir para o jantar, que seria no dia seguinte. Eulália era outra, cheia de confiança, de que aos seus pensamentos tudo aquilo de enamorar-se com o novo bacharel, “iria passar”. D. Benedita pensou em ir ter com seu marido no Pará. Chamou Eulália, que acalantava carinhosamente a fotografia de um homem, que não Leandrinho. Foi comprar as passagens, mas deixou para levar o dinheiro na véspera da viagem.
Por questões superticiosas a viagem não se deu. Foi-se relegando a outros dias, e daí a outros, e não se cumpriu.
Eulália levou sua mãe a uma festa em Andaraí. D. Benedita ficou tão bem impressionada que, dali a três dias, ainda falava bem da família que a recebera. Era a casa de D. Petronilha, esposa do Conselheiro Beltrão, e de uma irmã, D. Maricota. Casada com um oficial da marinha. Irmão de outro oficial, o mesmo da foto de Eulália. Ao passar do tempo D. Benedita aceitou a idéia de casá-lo com sua filha, e concordaram que em vinte e quatro horas após o consentimento do marido desembargador, Eulália casaria-se.
E assim o fez.
O Desembargador Proença morrera quinze dias após o casamento. E D. Benedita não se conteve em imensa tristeza.
O marido de Eulália foi mandado ao sul, e esta não o acompanhou por estar grávida.
Nessa época um negociante colocou-se como uma boa possibilidade de D. Benedita casar-se novamente, mas ela não o fez.
O neto nasceu com a volta do marido. Foram D. Benedita, Eulália, o genro,e o neto para o norte em uma visita póstuma.
Um advogado viúvo colocou-se como nova possibilidade à D. Benedita. Ela, diante da janela de sua casa, viu a formação estranha de um semblante feito de restos de nuvens, que dizia:
- “Casa... não casarás... se casas... casarás... não casarás... e casas... casando...”
D. Benedita atônita teve ainda força de perguntar ao vulto quem era ele:
- Sou a Vontade Imperfeira, Passageira, Hesitante.
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