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Por que ler os clássicos
(Italo Calvino)

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"Ler clássicos é melhor do que não os ler" Com essa afirmação, o escritor italiano Ítalo Calvino inicia o eficiente Por que ler os clássicos? Nele, o intelectual, consagrado como um dos maiores escritores do século 20, procura convencer os leitores atuais a ler livros de peso da literatura universal. Calvino é autor de pelo menos um candidato a clássico, o livro Cidades Invisíveis, publicado em 1952 e sua estratégia é oferecer um banquete literário, cujo “menu” é composto de seus comentários a respeito de obras consideradas indispensáveis pelos especialistas.
A impressão de que irá enfrentar compêndios enfadonhos e espiritualmente embolorados assusta os aventureiros da arca da literatura ? Didaticamente, Ítalo Calvino convence os mais amedrontados, desde os que preferem afirmar que estão “relendo” os clássicos por medo de serem discriminados como incultos, até os que se consideram um tanto “maduros” para iniciar a leitura dos mesmos. Tenta fazê-los ver que não precisam temer iniciar esse tipo de leitura, mesmo que tardiamente. O autor argumenta, por exemplo, que começar a lê-los em idade adulta acrescenta ao ato um sabor especial fornecido pela própria bagagem vivencial do leitor, que o tornará apto a melhor apreciar o conteúdo sempre surpreendentemente atual de tais livros. A capacidade de permanecer no tempo dos clássicos está relacionada à sua competência em interagir com a cultura, marcando-a com seus traços, por vezes subliminares, o que faz com que, na realidade inexistam “primeiras leituras” de clássicos, mas apenas “releituras”. Eles não são, segundo o escritor italiano, livros “antigos”, mas ocupam “um lugar próprio numa continuidade cultural”.
Depois desse exercício de convencimento, o autor se dedica à parte que poderíamos considerar como “degustativa” do texto. Nela produz comentários francamente deliciosos, e deliciados, sobre livros que constam do imaginário cultural. Assim, ele vai apresentando a obra de representantes consagrados de países diversos, como a Odisséia grega e um título do britânico Charles Dickens, Our Mutual Friend, chegando por fim à América Latina, em um comentário sobre a obra de Jorge Luís Borges, cuja forma particular de escrever, que Calvino denomina “breve”, condensa em “pouquíssimas páginas uma riqueza extraordinária de sugestões poéticas e de pensamento”.
O resultado da leitura de tal “menu” excelentemente elaborado deixa uma sensação de “missão cumprida”, já que o que autor de Por que ler os clássicos? nos apresenta é um guia cuidadoso e apaixonado de um intelectual em viagens pelas terras da herança cultural literária da humanidade, realizado com maestria, para o deleite dos que pretendem assumir compromissos inadiáveis de aquisição cultural.



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