E Então?
(Eu)
E então...e então disse de manhã o rouxinol que cantava...quem calou a tua flauta....quem desfolhou tao bela pauta...Que se passa? Que dor tens no peito? Foi algum mal-feito? Posso ajudar? É algum defeito? Alguma dor de amar? Ou é a vida que te faz sofrida? Nao houve resposta....nao houve som que falasse...faltava ao rouxinol o dom de haver...ele queria, como queria ser borboleta e esvoaçar parando o teu soluçar...ser rio e correr destruindo o teu sofrer...ser noite iluminada que te deixa consulada mas não era...não era nada a não ser o não ser o que queria....pensava que podia tudo...este e o outro mundo...pensava que podia falar sem proferir palavra...amar sem dar...lá isso ele sabia...sabia querer...sabia pedir...até sabia achar que se fazia saber sem nada dizer...mas não era borboleta alada...não era porto seguro na dura jornada...era um rouxinol até ao pôr do sol....vinda a noite, a dor de alma, ele não trazia a calma, fazia a mala e voava p’ra longe...ouvia as preces do monge, as dores do solitário, as demandas do corsário, as vitórias do herói, mas naquela noite, naquela insonia que remoi, ele não estava...era a tristeza que reinava...a solidão que dava a cara....tão escura a manhã clara que se destapava no horizonte...cair do cimo daquele monte...escalar, correr andar nunca descansar, p’ra quê chegar a um cume que só traz queixume, p’ra que chegar a vitória se não se tem a glória...p’ra quê ser alegre se a tristeza é o que torna a felicidade tão feliz....quem disse que há um norte, uma estrela polar eterna, se não há sorte, se não há paz, vejo a guerra, vejo o tormento...não vejo o alento...
o rouxinol lá continuava...achava porque achava que traria bons ventos...vieram tempestades vieram furacões....o rouxinol deixou saudações...era um rouxinol matreiro...tudo tem o seu engenho...a vida tem os seus truques....é uma àgua parada pela calada....mas quando se quer mergulhar, aquele momento em que se decide apenas deixar levar...dar um mergulho profundo regressar e boiar, boiar chegar ao infinito essa àgua tão calma revolta-se torna mais turva cada curva da vida....torna mais escuro cada turno do dia...torna mais vazio cada riso...como se quisesse dizer mais do que consigo...mais do que estes dedos conseguem escrever, ver antever planear...queria parar a lágrima pura da tua vida dura...trazer um sorriso à tua tristeza tornar beleza tudo à tua volta dar uma reviravolta no sentido da maré, fazer renascer a tua fé, recuperar a tua esperança....tornar boa cada lembrança...as palavras parecem faltar quando ha tanto p’ra concretizar...não lhes falta a vontade de te levar a bondade do universo e promover o teu regresso ao riso compulsivo, ao acto sem juizo...mas falta o que preciso para tornar realidade...já tenho a vontade...já tenho a intenção...em tanta coisa que te falta uma pelo menos é inata....nada mata...o amor do meu coração!
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